quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Somente Minha (Outtakes) - Outtake 2 - No Limite da Obsessão

Oi genteeee! Voltei! Como comunicado anteriormente, as Outtakes vão continuar, mas este não será um livro inteiro. Serão dez capítulos ou menos, e eles também não vão seguir uma ordem cronológica dos acontecimentos, conforme explica a sinopse. Vou escrever conforme a inspiração me guiar. São contos esporádicos mesmo, até porque estou ocupada escrevendo meu primeiro livro original, então, peço a compreensão de todos, por favor.
E é isso! Vamos à leitura!


Eu não tenho recompensa nenhuma pela minha obsessão, e talvez seja essa a moral de paixão não ter preço: Qualquer coisa que ele dê em troca, que não seja ele mesmo, nunca vai ser suficiente.
― Maria Paula Fraga



Narrador

“Divórcio?” o empresário francês repete as palavras que a esposa tinha acabado de dizer. “Depois de tudo isso, você ainda quer o divórcio?”

“É o melhor a fazer, Jean-François”, diz Corinne, ainda abatida pelo que lhe aconteceu, porém decidida. “Nós já nos machucamos demais nesse casamento. Não acho que teremos futuro juntos”.

“Porque você nunca meu deu uma chance de provar que era possível”, ele rebate.

“A verdade é que você nunca seria capaz disso”, ela fala calmamente. “E sei que você tentou. Sendo carinhoso comigo ou agindo de forma...” hesita, “parecida com a que Gideon me trata”.

“Com indiferença?” alfineta Giroux.

“E mesmo assim eu não consegui te amar”, ela o ignora. “E nunca poderei. Sinto muito”.

“Você vai mesmo jogar nosso casamento fora para correr atrás dele?” pergunta, incrédulo. “Mesmo depois de ele te empurrar para mim como se você fosse um problema que eu tinha que resolver? Mesmo ele estando noivo de outra mulher?”

Sentindo o peso das palavras do marido, Corinne engole em seco antes de responder. “Não estou jogando nada fora. Nunca construímos nada. Ambos ficamos presos em uma relação que nunca deveria ter surgido”.

O francês se afasta bruscamente, como se tivesse levado um tapa. “Como você pode ser tão fria em relação ao que vivemos?”

Ela suspira, cansada. “Jean, porque insistir em algo que não vai ter futuro?”

Ele arqueia uma de suas sobrancelhas grossas, não perdendo a ironia da situação. “Concordo plenamente. Porque insistir em algo que não vai ter futuro? Ou você espera mesmo que Gideon vai deixar Eva por você? Percebe o quão ridícula é essa situação?”

Corinne solta um suspiro trêmulo ao ver suas palavras sendo usadas contra ela. “Não importa. Eu vou lutar por ele”.

Giroux balança a cabeça, desviando o olhar para um ponto qualquer.

“Jean, você precisa me libertar desse casamento”, ela suplica. “Você também precisa se libertar. Não lute por mim. Você não tem chance”.

“E o fato de eu ter ficado ao seu lado no hospital não conta nada?”, ele volta a encará-la, franzindo o cenho. “Gideon simplesmente deixou seus pais e a mãe dele plantados no estacionamento enquanto iam atrás de Eva. Eu os ouvi conversando. Todos vocês estão presos nesse delírio absurdo de que ele é o homem ideal para você”.

“Se todos pensam assim, é porque deve ser verdade”, ela dá de ombros.

Ele solta um riso de puro deboche. “Claro que é. Você tenta suicídio por ele, e mesmo assim, além de levar a noiva junto para o hospital, vai embora sem sequer lhe fazer uma visita”.

“Ele não me visitou porque você partiu para cima dele”, ela se exalta. “Você estragou tudo”.

“E é com isso que você está preocupada?” Giroux se levanta de supetão, fazendo Corinne pular de susto em seu assento. “Eu perdi um filho por causa dele. Como acha que eu reagiria ao vê-lo na minha frente?”

“Gideon não tem culpa da morte bebê”, a voz dela falha no final.

“Então a quem devo culpar, Corinne. A você? Claro, faz muito mais sentido, afinal foi você quem tomou a decisão de tentar se matar por causa dele”.

Os olhos azuis claros enchem-se de lágrimas. “Eu também perdi um bebê. Eu jamais teria feito aquilo se soubesse... Não precisa ser mal comigo”, ela abaixa a cabeça e chora em silêncio. 

Giroux anda de um lado para o outro, passando a mão pelos cabelos nervosamente. “Pardonnez-moi (me perdoe). Está bem? Eu sei que você nunca teria feito isso de propósito. É só que tudo isso ainda me deixa muito mal”.

“E como você acha que eu me sinto? Hã?” ela fala alto, com a voz embargada. “Ou você não pensou nisso na hora de me atacar?” 

O empresário para de andar e a encara, cheio de culpa, pois foi exatamente o que Cross lhe disse quando conversaram ao telefone mais cedo. Corinne está fora de controle por causa da medicação. Ela não tinha culpa de nada. 

Je sais, je sais (eu sei)”, ele se ajoelha diante dela. “É que... ainda está tudo muito recente, e também estou sofrendo. Me desculpe”. Suas grandes mãos seguram as dela. “Porque não falamos disso depois? Você ainda está abalada. Não acho que esteja em condições de discutir isso agora. Quando voltarmos a Paris...”.

Corinne tira suas mãos das dele rapidamente. “Eu não pretendo voltar para Paris, Jean. Achei que tinha deixado isso bem claro quando fui embora”.

“Mas...”.

“Não”, ela o corta. “Eu já tinha decidido sobre o divórcio muito antes de tudo acontecer. Isso já está resolvido para mim. Eu ainda quero me separar de você. Nada mudou”.

Giroux deixa as mãos caírem sobre as coxas, sentindo-se completamente derrotado. Por todos esses anos, ele lutou com todas as forças para fazer sua mulher feliz, tentando absolutamente de tudo, mas ela ainda está ali, dizendo claramente que nunca lhe dará uma chance e que continuará a lutar pelo homem que a despreza.

Ele finalmente entende que isso não vai mudar.

Tinha sido usado e se deixado usar. Tinha isso um completo todo ao se iludir daquela forma. Colocou anos de sua vida em função de um casamento unilateral. Na cabeça de Corinne, ele não era um marido, mas uma peça de tabuleiro; um meio para se chegar a um fim; um degrau em uma escada que leva a Gideon.

“É melhor você ir, Jean”, a voz calma de sua esposa o desperta de suas conjecturas. “Não temos nada mais a falar um ao outro que não possa ser tratado por meio de nossos advogados”.

Sentindo fortemente o golpe final, ele fecha os olhos com força e se levanta. Acabou. Todas as possibilidades de futuro com que sonhara ter ao lado da mulher à sua frente acabaram de se desfazer. Na verdade, nunca existiram, porque ela mesma jamais permitiria isso.

Humilhado e de coração partido, ele vira de costas para Corinne e fica em silêncio por alguns segundos, tentando manter a compostura. Respira fundo várias vezes antes de se encaminhar para a porta, ainda sem olhá-la.

“Jean-François”, ela o chama suavemente. “Espero que seja feliz”.

Finalmente ele se vira para ela, deixando toda a mágoa transparecer em seu olhar. “E eu espero que valha a pena você desprezar um homem que te ama, por outro, que além de te ver como um estorvo, está noivo de outra. Boa sorte em sua empreitada, Corinne”, ele sorri de lado, não escondendo o tom de deboche. “Mal posso esperar para vê-la tentar”.

Ele sai do quarto e fecha a porta atrás de si.
...

Narrado por Corinne Giroux

Respiro fundo, tentando acalmar as batidas erráticas do meu coração.

Finalmente acabou. Giroux se foi. Sou uma mulher livre novamente. Livre e determinada a recuperar o tempo que perdi e o homem a quem amo com todas as minhas forças. As palavras de meu agora ex me abalaram claro, afinal ele não disse nenhuma mentira. Gideon já tinha falado centenas de vezes que não queria reatar comigo e que estava apaixonado por Eva.

Eu achava que era apenas um feitiço. Que ela era apenas uma novidade, e que não duraria muito. Mas esse provável noivado pode tornar as coisas mais difíceis. Sim, provável porque ainda não consigo acreditar que é real. Preciso ouvir isso da boca dele. E mesmo que ouvisse, não iria aceitar. 

Se Gideon não se importasse comigo, como Giroux tinha dito, porque ele ligaria para saber notícias minhas? Embora não atendesse meus telefonemas, havia uma faísca de esperança, e dela eu me aproveitaria.

<<<>>> 

As portas do elevador se abrem no último andar do Crossfire. O prédio é realmente impressionante tanto por dentro quanto por fora, e para muitos ainda é difícil de acreditar que Gideon seja dono de tudo isso sendo tão novo. Tenho muito orgulho do que ele conquistou até aqui, principalmente depois de tudo o que passou depois da morte de seu pai.

Assim que vê minha aproximação, Scott, o secretário de Gideon, se levanta imediatamente. Seu rosto não demonstra nenhuma emoção diferente à minha presença. Nossa última interação não foi das mais amigáveis; na ocasião, ele tinha se negado a me deixar entrar para ver Gideon, deixando claro que a única exceção era Eva. A essa altura, ele já deve estar sabendo do que houve comigo e, com certeza, não vai ter coragem de me expulsar.
“Senhora Giroux”, dá um aceno de cabeça.
 
“Olá Scott”, digo com falsa simpatia. “Gostaria de falar com Gideon, por favor”.

“Ele não está no momento, mas deve voltar em breve. Se quiser, pode esperá-lo aqui na recepção”.

“Obrigada, mas prefiro esperá-lo no escritório”, ajeito a bolsa em meu ombro.

A seriedade toma conta de seu rosto. “Sinto muito, mas não estou autorizado a permitir a entrada de ninguém no escritório sem a presença do senhor Cross”.

“Mas a Eva com certeza pode, não é?” levanto a sobrancelha, em claro deboche.

“Acredito que sim, mas essa situação nunca aconteceu. Ele sempre está no escritório para recebê-la”, alfineta sem se alterar. “Novamente, se desejar esperá-lo, fique à vontade”, ele aponta as cadeiras estofadas em frente à sua mesa.

Aperto os olhos e abro a boca, pronto para dar uma resposta desaforada, quando percebo que estou indo longe demais. Não vale a pena comprar essa briga. Seria deselegante e desagradaria Gideon. 

“Está bem. Eu espero”, ando até as cadeiras que me foram apontadas e me sento.

“Posso lhe oferecer algo para beber?”

“Não obrigada. Estou bem”, dispenso com um aceno de mão.

“Se precisar de algo, me avise”, ele volta para seu lugar atrás da mesa e começa a prestar a atenção em seu trabalho, sem dirigir o olhar para mim.

Por dentro estou borbulhando de raiva. Scott é um intrometido. E parece também adorar aquela maldita, além de não fazer questão de esconder isso. Tomara que eu não precise aturá-lo por muito tempo. Longos minutos se passam em um silêncio insuportável.

Passos ecoam atrás de mim, se aproximando do lugar onde eu estou, me fazendo virar a cabeça imediatamente. Gideon surge no corredor, tão lindo quanto sempre foi. Talvez até mais. E está me encarando, embora não pareça tão receptivo.

Não importa. Eu estou. Sempre estarei.

“Gideon”, me levanto de forma comedida, sem demonstrar o tamanho da minha euforia por estar na presença dele.

“Bom dia”, ele diz finalmente. “Como você está?”

“Melhor”, vou até ele, tentando diminuir a distância entre nós, mas ele dá um passo para trás. Meu coração se aperta com seu gesto, e o sorriso em meu rosto morre. “Você tem um minuto?”

Sem dizer nada, ele aponta para sua sala. 

Ele claramente não está feliz em me ver e o fato de não fazer nada para esconder isso, me deixa mais arrasada. Contudo, não vou abrir mão da oportunidade.

Respirando fundo, me encaminho para a sala dele. 

“Dez minutos”, eu o escuto falando atrás de mim. 

Vou até à mesa dele e me sento pesadamente na confortável em frente à sua mesa. Fecho os olhos e aperto as pálpebras. Mais um golpe duro.

Gideon fica em pé ao lado da mesa. Sem tirar o paletó. 

Sua mensagem é clara: ele não me quer aqui por muito tempo.

“Lamento muito pela sua perda, Corinne”, essas são as primeiras palavras que ele dirige a mim após ficarmos a sós.

Sinto um arrepio gelado na espinha ao ouvir isso. “Ainda não consigo acreditar. Depois de tantos anos tentando… Pensei que eu fosse incapaz de engravidar”. Pego a foto da maldita Eva que está na mesa dele, em uma tática para mudar rapidamente de assunto. “Jean-François me disse que você telefonou algumas vezes perguntando sobre mim. Seria melhor se me ligasse. Ou atendesse meus telefonemas”.

“Não acho que seja apropriado diante das circunstâncias”.

Eu o encaro. “Vocês vão casar”, falo em tom de constatação, como se estivesse interpretando o significado por trás de suas palavras. 

“Vamos”, ele confirma como se eu tivesse feito uma pergunta.

Direto e frio, como sempre.

Fecho os olhos, sentindo o impacto do que Jean me disse mais cedo “Estava torcendo para que fosse mentira da Eva”.

“Sou muito protetor em relação a ela. Cuidado com o que vai falar”, sua voz sai calma, mas é nítido que ele está tentando segurar sua natureza.

E isso desencadeia uma descarga de raiva em mim. Abro os olhos, pondo a foto dela de volta na mesa, batendo-a com força. “Está apaixonado por ela?” 

“Não é da sua conta”, rebate.

“Isso não é resposta”, contesto.

“Não sou obrigado a dar satisfações para você, mas, se quer saber, ela é tudo para mim”.

Frio e direto novamente. Meus lábios estremece. “Faria alguma diferença para você se eu dissesse que vou me divorciar?” 

“Não”, ele bufa violentamente. “Nunca vamos voltar a ficar juntos, Corinne. Não sei quantas vezes ou de quantas maneiras preciso dizer isso. Nunca vou ser o que você quer que eu seja. Você se livrou de uma boa quando rompeu nosso noivado”.

Fico toda tensa ao ouvir isso. Seria eu a culpada de tudo por tomar a decisão de terminar com ele para me casar com Giroux? “É isso que está nos separando? Você não consegue me perdoar?”

“Perdoar? Eu agradeço por ter feito isso”, agressividade misturada ao deboche em seu tom de voz faz meus olhos se encherem de lágrimas grossas que começam a rolar sem permissão pelo meu rosto. “Não quero ser cruel” ele ameniza a voz. “Sei o quanto pode ser doloroso. Mas não quero dar nenhuma esperança a você, porque não existe nenhuma”.

“O que faria se Eva dissesse uma coisa dessas para você?”, contesto, usando sua fraqueza. “Desistiria e desapareceria da vida dela?”

“Não é a mesma coisa”, passa as mãos pelos cabelos. Ele sempre faz isso quando está nervoso ou quando está tentando buscar uma explicação para algo. “Você não entende o que tenho com Eva. Ela precisa de mim tanto quanto eu preciso dela. Para nosso bem, eu tentaria até o fim”.

Eu preciso de você, Gideon”, suplico. Não há ninguém nesse mundo que precise dele mais do que eu.

“Você nem me conhece. Eu representava um papel para você. Deixava que enxergasse em mim o que queria ver, o que considerava aceitável”.

Fico olhando para Gideon em silêncio. Estou chocada. As palavras de minha ex-sogra, em nosso encontro em sua casa, logo após a notícia do noivado se tornar pública, fazem todo o sentindo. “Bem que Elizabeth me disse que Eva está querendo reescrever seu passado. Não acreditei. Nunca pensei que você fosse se deixar enganar por alguém, mas acho que existe uma primeira vez para tudo”.

“Minha mãe só acredita no que quer, assim como você”.

Eu o estou perdendo. Não adianta ficar na defensiva, atacando-o. Mas manter, nem que seja um pedaço dele, ao meu redor.

Sem pensar duas vezes, estendo minha mão em sua direção. “Eu te amo, Gideon. E você também me amava”.

“Eu era grato a você”, ele corrige. “E sempre vou ser. Sentia atração por você, e nós nos divertíamos. Houve um tempo em que eu precisava de você, mas jamais daria certo entre nós”. Abaixo a mão, vendo que ele sequer se aproximaria de mim mais que o necessário. “M ais cedo ou mais tarde, eu teria encontrado Eva. E teria aberto mão de qualquer coisa para ficar com ela. Teria deixado você. Seria inevitável”.

Viro o rosto, não deixando-o ver o quanto suas palavras me destruíram.

“Bom… pelo menos sempre vamos ser amigos”, jogo minha carta final. Eu tentei ir pelo lado mais agressivo e não consegui nada. Ao menos como amiga, vou estar por perto e conseguir abalar a confiança de Eva e, quem sabe, até o relacionamento deles. 

Respiro fundo e volto a encará-lo, buscando o apoio em seus olhos, mas tudo o que vejo é sua cabeça virada para o lado. “Isso não vai ser possível. É a última vez em que nos falamos”.

Não! Eu vou perdê-lo de vez. Não!

Ele não pode fazer isso comigo. Não pode...

“O que sobra para mim se não tiver você?” 

Eu me levanto e rapidamente vou até Gideon. Suas grandes mãos seguram meus braços e nossos rostos próximos. A compreensão passou por seus olhos, como se tivesse me entendido tudo tardiamente, antes de ele fazer uma careta de horror e... me empurrar para longe. 

O susto e o fato de eu não esperar que ele fosse fazer algo assim, me fez cambalear para trás, e meus saltos se enroscam no carpete. 

“Nem tenta jogar esse peso em cima de mim”, dispara, com um tom de voz grave e seco. “Não sou responsável pela sua felicidade. Não sou responsável por nada que diz respeito a você”.

“Qual é o seu problema?”, grito, explodindo de raiva. Como ele ousa me tratar assim?. “Esse não é você”.

“Você não faz ideia”, ele anda até a porta e abre a porta. “Vai para casa ficar com seu marido, Corinne. Vai se cuidar”.

“Vai se foder”, sibilo de ódio. “Você vai se arrepender de ter dito isso e pode ter me magoado demais para eu te perdoar”

“Adeus, Corinne”, ele diz sem se abalar.

Eu o encaro, como se nunca tivesse o visto antes, mas também como se estivesse prestes a perder algo que foi meu durante muito tempo. Tento procurar em algum lugar onde está o homem que tinha sido louco por mim, mas ele não está ali.

O Gideon que está na minha frente não vai ceder. 

Tomando a única decisão sensata no momento, saio de seu escritório sem dizer uma única palavra. A passos apressados, me dirijo aos elevadores. Tudo em volta de mim é um completo borrão. 

Gideon me escorraçou. Depois de tudo que passei, de tudo que sofri, e de todas as vezes em que lhe declarei meus sentimentos, ainda assim, o único homem a quem entreguei meu coração, me escorraçou com um cachorro.

E ainda assim, tudo o que eu quero é me jogar nos braços dele.

Aperto o botão do elevador, e, enquanto o aguardo, reviro a bolsa atrás de meus óculos escuros. As portas de alumínio se abrem no mesmo momento em que os coloco no rosto. Não quero que ninguém tenha sequer uma pista da minha tristeza e da minha dor.

Durante a descida, respiro fundo algumas vezes, tentando segurar o choro que ameaça explodir, ao mesmo tempo em que sou bombardeada pelas duras palavras que me foram dirigidas. Ele foi cruel sem motivo; me tratou como mais uma de suas conquistas. E fez questão de colocar aquela maldita num pedestal, como se ela fosse melhor do que eu. Como se ela fosse capaz de fazer as coisas que eu faria para vê-lo feliz. Agora, ele está oferecendo o mundo a Eva em uma bandeja de prata, enquanto eu tive que me contentar com as migalhas.

Burra! Como fui burra de romper nosso noivado, exigindo mais quando na verdade eu deveria simplesmente ter aceitado o que já tinha. Além disso, com o tempo e com o casamento, eu poderia ter conseguido fazê-lo se abrir. Teria sido diferente, e nem mesmo Eva poderia se colocar entre nós.

Depois dela, Gideon esqueceu completamente o que tivemos e isso me apavora. Se eu ao menos tivesse a chance de lembra-lo de como éramos bons...


As portas do elevador se abrem, me tirando de meus pensamentos. Olho para a frente e aqui está o lobby. Ao dar dois passos para porta do elevador, um flash do que eu estava fazendo esta manhã me vem à mente. Sentada na minha varanda, vendo nossas fotos juntos. Relembrando nosso passado.

Sinto o desespero diminuir drasticamente. As batidas erráticas do meu coração se acalmam. Fecho os olhos, solto um pesado suspiro e os abro novamente, ao mesmo tempo em que sinto um sorriso surgir. 

Eu tenho um plano magnífico. Algo que vai abalar as estruturas de Gideon, e mexer com a parca autoestima de Eva. 

Ele pode não voltar para mim.

Mas também não terá paz para ficar com ela.

<<<>>> 

“Confesso que fiquei bem surpresa com sua ligação”, a mulher diz ao se aproximar da mesa. 

“Sente-se”, indico a cadeira do outro lado, enquanto dou um gole em minha água.

Estamos em um bistrô que fica no bairro da casa de meus pais. É pequeno, mas aconchegante e com um ar minimalista e sofisticado. Definitivamente um dos meus lugares favoritos em Nova York. Reservei uma mesa mais ao fundo, para ter mais privacidade. 

Com toda a confiança de uma jornalista sagaz e experiente, Deanna Johnson puxa a cadeira e se senta, sem deixar de me encarar.

O garçom se aproxima e nos entrega os menus. 

“Desejam algo para beber”.

“Eu estou bem, obrigada. Deanna?” 

Ela me lança um olhar desconfiado antes de se voltar para o rapaz que nos atende. “Uma taça com água da casa”.

“Sim, senhora. Fiquem à vontade”, ele se afasta.

Abro o menu, e finjo lê-lo. “Recomendo o cordeiro. Um dos melhores que já comi”.

“Sra. Giroux, porque estamos aqui?” pergunta sem rodeios.

“Para almoçar”, respondo ainda olhando para o menu, “e para tratarmos de um assunto do meu interesse e do seu. Mas logo seremos interrompidas pelo garçom. Não vale a pena começar uma conversa que será interrompida. Aproveite para escolher seu prato. Todas as opções são saborosas”.

Antes que ela possa dizer algo, o garçom retorna com uma taça de água e a coloca em frente à Deanna.

“Obrigada”, a ouço dizer. “Estamos prontas para pedir, certo?”

“Sim”, fecho o menu e me viro para o garçom. “Eu vou querer o cordeiro”.

“Vou querer o mesmo”, me volto para Deanna, que está me encarando com uma de suas sobrancelhas arqueadas. “Vamos ver se o prato é tão bom quanto você diz”.

O garçom anota nossos pedidos, pede licença e se retira.

“Confesso que estou bastante intrigada, senhora Giroux”, ela cruza as pernas e toma um gole de sua água. “Nosso último encontro não foi dos melhores”.

“Você me pegou de surpresa”, dou de ombros. “Eu realmente acreditava que Gideon e eu estávamos nos reaproximando”.

“E agora ele está noivo”, sorri de lado.

“Sim”, digo sem me mostrar abalada. “Mas pretendo fazê-lo mudar de ideia em breve. Antes de começarmos”, olho para minha taça e passo o indicador pela borda dela, “tenho uma pergunta a fazer”.

Sinto Deanna se remexer em seu assento, visivelmente ávida pelo que vem a seguir. “Diga”.

“Porque está tão sedenta sobre Gideon?” lanço um olhar em sua direção. “Você tem abordado pessoas próximas a ele, tem feito muitas perguntas, tem estado bastante antenada ao que acontece ao redor dele. Um tanto obsessiva, eu diria”.

“E quem não ficaria?” ela apoia os cotovelos no tampo da mesa e cruza as mãos uma na outra. “Uma figura tão misteriosa desperta curiosidade. Principalmente quando, de repente, decide se expor ao público como ele tem feito. Você viu as fotos dele beijando Eva na rua? Ou o vídeo dos dois no Bryan Park?”

Engulo em seco levemente, me lembrando da dor e da inveja que senti quando o assisti. “Sim”.

Deanna abre um sorriso, como se soubesse que conseguiu me atingir. “Fato é que Gideon Cross ficou muito mais interessante quando Eva Tramell apareceu em sua vida. Não que ele não fosse antes. Mas desde que os dois começaram a se relacionar, suas atitudes mudaram drasticamente e de forma visível ao s olhos do público. Todos querem saber o que está acontecendo, e é meu dever como jornalista comunicar isso”.

Agora, quem abre um sorriso sou eu. Sabia que tinha escolhido a pessoa certa. 

“Então, você vai gostar muito da proposta que tenho a lhe fazer”.

Ela pega sua taça e a estende no ar, como se estivesse brindando, e a coloca perto da boca. “Vamos ouvir”. 

“Estou planejando lançar um livro sobre minha relação com Gideon”.
Deanna quase engasga com sua água. “O quê?”

“Exatamente o que você ouviu”, digo com confiança. “Um livro biográfico com direito a todos os detalhes da nossa relação, desde os mais românticos ao mais picantes. E, claro, algumas fotos dos nossos tempos de namoro e noivado. Fotos que nunca foram vistas pelo público. Um material completamente inédito”.

“Uau” ela descansa sua taça no tampo da mesa. “Isso é... Inesperado. Quer dizer, você sempre foi muito reservada e agora quer escrever um livro sobre sua intimidade?”

“Ele também era, e não a vi o criticando por isso”.

“Não foi uma crítica, e sim uma constatação” dá de ombros. “Temos que concordar que isso é surpreendente. Além do mais, você está compartilhando isso com uma jornalista. Por si só, isso já é bem intrigante, já que poderia ter feito um comunicado através sua assessoria de imprensa”. Ela cerra os olhos. “Ainda não estou entendendo o que você quer realmente. Me dar uma exclusiva? Porquê?”

“Eu não quero uma matéria no seu blog. Quero que você escreva o livro”.

Suas sobrancelhas sobem de surpresa. “E virar o alvo de ódio do homem mais poderoso de Nova York? Uma coisa é fazer uma matéria sobre ele. Escrever um livro sobre sua vida pessoal, nos termos que você quer, é completamente diferente. Não vou fazer isso e correr o risco de ter minha carreira destruída”.

Balanço a cabeça. “Você deveria ter me esperado terminar de falar. Eu não pretendo te expor”.

Deanna franze o cenho por um segundo, mas o sorriso enviesado que surge em seus lábios logo em seguida me diz que ela entendeu. “Você quer que eu seja a escritora fantasma”.

“Bingo”.

“Porque eu?”

“Porque você está pesquisando sobre a vida de Gideon”, recostei-me na cadeira. “Vamos ser honestas aqui: um livro vale muito mais do que uma materiazinha qualquer. Você vai ganhar um bom adiantamento e uma porcentagem razoável nos lucros da venda, mas manterá seu anonimato. Ninguém além de mim, você e a editora vão saber de sua participação. Vai ser como se eu estivesse escrevendo. Além disso, você terá acesso a várias coisas sobre ele. Coisas que você vem tentando confirmar sem sucesso, já que as poucas pessoas do círculo íntimo dele são muito leais”.

Deanna olha para um ponto fixo qualquer, como se estivesse processando tudo o que acabei de dizer. 

“Você tem até o final do almoço para dar sua resposta”.

Ela olha para mim “Não vai me dar mais tempo para pensar?”

“Porque já estou em contato com uma editora. Já marcamos uma reunião daqui a dois dias, e queremos já ter o escritor definido.

“Você disse que tinha me escolhido”.

“Não”, rebato. “Eu disse que tinha uma proposta a lhe fazer. Você aceitando ou não, o livro vai ser escrito e lançado. A editora me indicou dois escritores para a tarefa. Se esse encontro não der em nada, eu tenho outras duas opções”, sorrio.

“Senhora Giroux, lembre-me de nunca lhe subestimar”, ela balança a cabeça. “Eu aceito a proposta”.

Solto uma curta risada. “Só um louco não aceitaria, minha cara”, levanto minha taça. “Temos um acordo?”

Ela levanta sua taça e brindamos com um tilintar. “Com certeza temos”.

O garçom chega com nossos pratos e passamos o restante do almoço conversando sobre os detalhes do livro.

Gideon nem saberá o que o atingiu. 

Dessa vez, ele não tem como escapar.

<<<>>> 

Narrador

Corinne chegou ao Tableau One se sentindo absurdamente linda e confiante. Para aquela noite, ela havia escolhido um vestido vermelho na altura dos joelhos que abraçava cada centímetro de suas curvas longilíneas e cuja cor ressaltava ainda mais o bronzeado natural de sua pele. Seus saltos pretos alongaram-lhe ainda mais as pernas. Seu longo cabelo liso estava solto, chegando até a cintura. Brilhava como uma pérola negra. Sua maquiagem estava leve, embora tivesse caprichado na marcação dos olhos, o que ressaltou ainda mais a beleza de seus orbes cor de água marinha.

Nenhum homem presente naquele restaurante foi capaz de resistir à sua presença imponente e marcante. Ela chamava a atenção de uma forma quase hipnótica. Seu andar delicado e elegante, seu sorriso misterioso, e claro, sua beleza exótica, eram simplesmente irresistíveis. 

Assim chegou ao meio do restaurante, foi recepcionada por seu dono e chef, o igualmente belo e charmoso Arnoldo Ricci. 

“Corinne”, ele disse com sua voz grave e carregada de seu característico sotaque italiano. “É um prazer recebe-la”.

“E pra mim é maravilhoso te ver”, ela o abraçou com carinho. “Como tem passado?”

“Trabalhando muito, como sempre, mas sem deixar de me divertir”, ele a soltou e estendeu-lhe o braço. “Me acompanhe, per favore (por favor)”.

Corinne lhe dá o braço e o segue. “Esse lugar é lindo. Mas confesso que não tem a mesma energia quando você não está. Parece incompleto”.

“Ah, grazie cara mia (Obrigado, minha querida)”, ele aperta uma de suas mãos com carinho. “Mas diga-me”, eles chegaram a uma parte mais reservada do restaurante. “Como você está? Fiquei tão preocupado com você”.

Ela o encarou com um olhar triste e engoliu em seco. “Ainda estou tentando aceitar o que houve. Ter um bebê é uma das coisas que mais desejei na vida e agora não sei quando terei a chance de realizar esse sonho novamente, já que estou me divorciando”.

“Eu ouvi sobre isso também” Arnoldo disse com sinceridade. “Sinto muito. Não tem volta mesmo?”

“Jean-François e eu estamos nos libertando. Será bom para nós dois”, ela se limitou a dizer. “E você, o que tem feito? Ouvi boatos de que você está renovando contrato para mais temporadas de seu programa de culinária”.

Arnoldo entendeu a mensagem e apenas puxou a cadeira para que sua amiga se sentasse. Em seguida, ficou de pé, ao lado da mesa para dois, e lhe contou tudo o que ela queria saber. Ambos estavam deliberadamente evitando o que havia feito Corinne ir até lá. E assim foi até que os dois se virassem para o homem que acabara de chegar. 
...

Corinne 

Gideon está lindo e imponente, como sempre. Mas hoje não é o dia de me deixar deslumbrar com sua figura. Hoje, é ele quem está em minhas mãos. Limitei-me a cumprimenta-lo com um sorriso frio, sem esconder minha presunção, claro. Afinal, eu o tinha feito me procurar. Eu sabia que ele faria isso assim que Deanna lhe entregasse o release sobre o lançamento de meu livro. Só não esperava que fosse tão cedo.

“Corinne”, ele me cumprimenta de volta com um aceno de cabeça antes de apertar a mão de Arnoldo.

“Se me derem licença, preciso voltar à cozinha. Fiquem à vontade”, nosso amigo italiano leva minha mão aos lábios para um beijo de despedida e sai.

Gideon se senta diante de mim, aparentemente calmo. “Obrigado por tirar um tempo para encontrar comigo”.

“Seu convite foi uma surpresa agradável”.

“Mas não inesperada, imagino”, ele se recosta na cadeira.

Abro um sorriso e finjo limpar uma poeirinha invisível no acentuado decote do meu vestido. “Não, eu diria que não”.

“O que está fazendo?” ele vai direto ao ponto, mostrando um tom de irritação em sua voz. “Você valoriza a privacidade tanto quanto eu”.

“Foi o que pensei quando vi pela primeira vez aquele vídeo de vocês dois discutindo no parque” rebato. “Você diz que não te conheço, mas conheço muito bem, e ter a vida exposta nos tabloides é algo que jamais admitiria em circunstâncias normais”.

“E o que é normal?” ele não nega a diferença de tratamento em relação a sua vida íntima com Eva.

Sinto uma pontada no peito ao ouvir isso. Gideon não cede. Não pede duas vezes. Não abre mão. Não corre atrás. 

Dói saber que, mesmo tendo sido noiva dele, fui tratada da mesma forma que as outras. Sempre pensei no fato de ele ter saído com várias mulheres que se pareciam fisicamente comigo como uma prova de que ele ainda me amava, e de que era orgulhoso demais para me pedir para voltar. Havia chegado à conclusão de que meu casamento era o que o inibia de fazê-lo. Por isso me separei. Para lhe mostrar que estava disponível física e emocionalmente se ele quisesse. 

Mas tudo foi por água abaixo quando Eva Tramell apareceu. Ela o envolveu de tal forma, que acabei me tornando mais uma de muitas que passaram pela vida de meu ex-noivo, fazendo-o esquecer de todos os momentos bons e felizes que vivemos.
 
“Esse é justamente o ponto…”, dou voz aos meus pensamentos. “Você não lembra mais. Porque está envolvido num caso passional e não consegue enxergar nada além dele”.

“Não existe nada além dele, Corinne. Vou ficar com Eva até morrer”, ele insiste.

Suspiro antes de jogar a carta na manga. “Você acha isso agora, mas relações tempestuosas não duram, Gideon. Queimam até virar cinzas. Você gosta de ordem, de calma, e não vai ter isso com Eva. Nunca. No fundo, uma parte de você sabe disso”.

Depois que revi tudo o que havia na internet sobre os dois, desde suas manifestações públicas de afeto, passando pelo vídeo da briga/reconciliação deles no Bryant Park, até a música que Brett Kline fez para Eva como uma verdadeira declaração de amor, percebi que aquela exposição toda incomodaria Gideon, munindo seus inimigos pessoais e de negócios de brechas para atingi-lo. Para quem nunca se deixou atingir antes, isso é um tremendo sinal de fraqueza.

Um garçom se aproxima da nossa mesa para tomar nossos pedidos. 

“Uma salada caesar”, falo.

“Eu vou querer um uísque. Duplo”, Gideon diz, especificando a marca da bebida.

Observo atentamente seu jeito calmo, porém tenso. Muitos diriam que ele está calmo, mas eu o conheço bem para saber que tinha feito um grande trincado em sua armadura. Sorrio por dentro. 

“Então está escrevendo um livro sobre a gente… pra quê?”, ele pergunta assim que o garçom sai. “Para se vingar de mim? Magoar Eva?” 

A segunda parte? Com certeza. “Não. Só quero que você lembre”.

“Não é assim que vai conseguir isso”.

“E como vou?” inclino a cabeça para o lado.

Ele me encara firmemente nos olhos. “Acabou, Corinne. Expor suas memórias não vai mudar nada”.

“Talvez não”, admito, sem conseguir esconder minha tristeza. Boa parte de mim sabe que isso não o fará voltar para mim, mesmo que uma parte ainda tenha esperança. “Mas você disse que nunca me amou. O mínimo que posso fazer é provar o contrário. Eu te dei conforto. Satisfação. Você foi feliz comigo. Não vejo essa tranquilidade quando está com ela. Você não pode me dizer que se sente da mesma forma”.

“Tudo o que está falando me faz acreditar que nem liga se eu ficar com você ou não. Mas você está se separando de Giroux, e talvez ligue para dinheiro. Quanto pagaram para você vender seu ‘amor’ por mim? ”

Ergo o queixo, me sentindo ultrajada por suas palavras. “Não é por isso que estou escrevendo o livro”.

“Você só quer ter certeza de que não vou ficar com Eva”, rebate.

“Só quero que você seja feliz, Gideon”, tento remediar. “E, desde que conheceu essa mulher, você não parece nada feliz”.

Meus olhos são atraídos para o brilho em sua mão esquerda, que está em ciam da mesa. É um anel dourado cravejado de rubis. Uma joia masculina, sofisticada e cara.

Em todos esses anos que nos conhecemos, eu nunca o tinha visto usar uma única joia. Olhar para ela, logo em sua mão esquerda, me faz lembrar de outro anel. “Você deu a aliança da sua mãe para Eva.”

“Há muito tempo que não é mais dela”.

Dou um gole em minha taça de vinho, como se a bebida fosse amortecer o golpe que provavelmente vou levar quando ele responder minha próxima pergunta. “Você já tinha a aliança quando estava comigo?” 

“Já”, ele responde imediatamente.

Estremeço diante de sua sinceridade cortante. Ele havia me dado um anel qualquer de uma joalheria cara; nada mais. 

“Pode tentar convencer a si mesma de que Eva e eu somos incompatíveis”, ele continua, com a voz firme, “e que só brigamos ou transamos e não temos nada mais substancial. Mas a verdade é que ela é minha outra metade e o que você está fazendo vai magoá-la. Se cancelar o livro, posso cobrir o valor do contrato com a editora”.

Eu o encaro por um longe tempo. Ele quer mesmo se livrar de mim, de tudo o que vivemos. A certeza de que nunca teremos uma chance aumenta, mas não se totaliza em mim. Mas passei tantos anos amando esse homem de forma incondicional; fiz tantos sacrifícios para tê-lo de volta que, a simples ideia de desistir para sempre me causa náuseas insuportáveis.
“Não…”, encontro forças para responder. “Não posso, Gideon”.

“Por quê?” ele pergunta, parecendo frustrado.

“Está me pedindo para desistir de você. Esse é me u jeito de não fazer isso”.

Ele se aproxima de mim sobre a mesa. “Se sente alguma coisa por mim, Corinne, por favor, não publique este livro”.

Mas é exatamente porque eu sinto algo por você que tenho que fazer isso. Você não entende?

“Gideon…”.

“Se fizer isso, vai transformar as boas lembranças que eu tinha em algo que odeio”.

Suas palavras fazem meu peito doer e meus olhos se encherem de água, até a visão de seu lindo rosto ficar borrada. “Sinto muito”.

Ele afasta a cadeira e se levanta. “Vai sentir mesmo”.

Ele me dá as coisas e sai do restaurante sem ao menos me lançar um último olhar, como se eu não fosse digna nem mesmo disso.

Fecho os olhos e me entrego ao choro. 

Choro porque não consigo desistir dele.

Choro pelo meu amor incompreendido.

E choro porque, depois de tanto tentar reconquistá-lo, eu consegui fazer com que o único homem que amei em toda a minha vida, me odeie.



Meu, essa Corinne é lelé da cuca real! Desencana, minha filha! 
Giroux é lindo, milionário e europeu, mas autoestima é que nem dinheiro: você tem ou não tem. No caso dele, sobra dinheiro, mas autoestima ali passou longe. Fazer o quê, né?

Deanne, mas tu é traiçoeira, hein? Aceitou o pedido de perdão do Gideon, mas concordou em escrever o livro. O pé na bunda deixou cicatriz, foi?
E aí, o que acharam?
Não esqueçam de deixar seus comentários! Estou lendo todos e, quando puder, irei responder! Beijo grande e até a próxima!


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