terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Para Sempre Minha: Capítulo 7 — A arte de deixar partir

ATENÇÃO: LEIAM AS NOTAS EM NEGRITO, POIS SEMPRE TEM AVISOS IMPORTANTES! NÃO VOU RESPONDER COISAS SOBRE O QUE EU JÁ TIVER COLOCADO AQUI.

Aê! Finalmente! Depois de séculos, teremos capítulo novo! 

E aí, gente, como ficou a leitura de 'Somente Sua?' Eu ainda não tive tempo de comentar sobre o livro, mas farei um vídeo em breve e postarei lá na minha página. No mais, foi uma história surpreendente em muitos aspectos, mas vamos deixar isso pra lá, por enquanto, e bora voltar para o que vocês estão prestes a ler.

O capítulo a seguir não gira em torno do casal principal, não. Na verdade, ele é o desfecho de um dos dramas que mais me chamou a atenção na história e que merecia ser explorado. Aqui fica mais uma bela faceta de nosso moreno perigoso, e sua jornada rumo à redenção. Mais uma lição de amor, mais uma lição de vida. Espero que gostem! Boa leitura!




 “Desistir do outro não é fracassar. É ter a consciência de que algumas pessoas simplesmente não valem o seu esforço. Se não há reciprocidade não é amor. É insistência”.
—    Isabela Freitas



A porta se abre revelando a figura esbelta e elegante de minha amiga de infância. Não seria uma surpresa muito grande se não fossem absurdamente drásticas as mudanças em seu visual. Para começar, seus longos cabelos negros agora estão na altura dos ombros, deixando seus marcantes traços latinos ainda mais evidentes. Suas roupas não perderam a sofisticação de sempre, mas a deixam mais jovial, moldando suas curvas nos lugares certos. Mas, o que mais me chama a atenção são seus profundos olhos negros. Tão diferentes e ao mesmo tempo tão iguais. O brilho que reluz dali é completamente diferente do que estou acostumado. É como se eu não soubesse mais quem ela é, mas ainda sim, lhe conhecesse como a palma da minha mão.

 “Olá, Gideon”, sua voz doce e ao mesmo tempo forte ressoa pelo ambiente, quebrando o pequeno momento de silêncio entre nós.

“Oi, Maggie. É uma surpresa vê-la. Entre”, saio detrás de minha mesa após acionar o dispositivo que escurece os vidros do escritório e a alcanço no meio do caminho. Beijo de leve seu rosto e a levo para se sentar no sofá. “Aceita beber algo?”

“Obrigada”, diz com um pequeno sorriso. “Eu imagino que não seja nenhum pouco fácil surpreender Gideon Cross. Eu deveria ganhar um prêmio por essa façanha. Como isso não será possível no momento, posso me contentar com um copo de água”.

Dou risada. “Bom, se serve de consolo, será o melhor copo de água que você já tomou na vida”.

“Veremos”, rebate divertida.

Eu a sirvo e mantemos uma conversa amena, leve e descontraída, que lembra muito as que já tivemos no passado. Apesar dos sentimentos que ela sempre alimentou por mim, nunca deixamos de ser próximos. Durante meu relacionamento com Corinne, acabamos nos afastando um pouco, mas eu sempre soube que tinha uma amiga para a vida toda, com quem eu pudesse contar sempre que precisasse.

O motivo de sua visita permanece uma incógnita para mim por alguns instantes. Tanto quanto quero saber o motivo de sua visita, quero me inteirar de como ela está e tentar entender o que lhe aconteceu no tempo em que estivemos sem nos falar.

“Gostei de seu novo corte de cabelo. Combinou com você”, elogio.

“Ah, mais um fã para o novo visual! Mama me disse que rejuvenesci uns dez anos”, revira os olhos. A mãe dela sempre foi dramática e exagerada. E é a única pessoa que conheço que consegue ser tudo isso sem perder nenhum terço de sua classe.

“Eu concordo. Parecia que você estava se escondendo debaixo de todo aquele cabelo”, brinco.

“Talvez eu estivesse”, resmunga mais para si mesma, se perdendo em pensamentos por breves segundos, mas sacode a cabeça e recupera o bom humor. “Fui jantar no Tableau One com uma amiga e encontrei Arnoldo. Ele não cansou de dizer o quanto eu estava bellissima” — diz numa tentativa infame de imitar a voz e os trejeitos de Arnoldo que me faz rir. “e deixou claro que se não fossemos amigos, ele com certeza tentaria me conquistar”.

“Isso é típico dele. Pelo menos ele não deu em cima de você. Uma mulher bonita e hétero que esteja respirando é o suficiente para mantê-lo aceso”, comento fazendo o melhor para ignorar sua resposta ao meu comentário sobre estar ela se escondendo, a fim de deixá-la confortável.

“Há controvérsias quanto à parte de ser hétero”, pondera com uma falsa cara pensativa. “Acho que, desde que ela queira sexo com ele e seja boa nisso, ele não vê problemas. Conforme o próprio Arnoldo diz, ele é um amante de mulheres, no geral”.

Ouvir isso me faz lembrar os motivos que levaram Arnoldo a ser como é em relação ao sexo oposto. No fundo, eu sabia que ele só agia assim por se julgar incapaz de se entregar à outra mulher, como já havia feito no passado. Ele nunca se recuperou. E, se por um lado, eu desejava que ele conseguisse, por outro, eu o entendia. Se Eva amasse outro homem e me deixasse, eu jamais conseguiria me refazer. Seria incapaz de me doar a outra pessoa. Seria incapaz de amar.

“Gideon?” a voz de Maggie me tira dos meus pensamentos. “Está tudo bem? Ficou calado de repente”.

Balanço a cabeça, afastando esses pensamentos da minha mente, tentando sufocar o repentino aperto no meu peito. “Desculpe, é só que...”.

“Você se lembrou de Eva”, não foi uma pergunta.

Respiro fundo. “Acho que minha indiferença habitual anda falhando muito ultimamente”.

“Ela só funciona com quem não te conhece de verdade, Cross. Supere isso”, sorri, mas fica séria de repente. “Sei que está sofrendo com a separação. Sei que você a ama ainda. Não é fácil se desvencilhar de um sentimento tão forte. Acredite em mim, eu conheço a sensação”, completa num sussurro.

Incapaz de encarar minha amiga, eu me levanto e ando até a enorme parede de vidro que me separa do restante da ilha de Manhattan.

“Olhe, não vou entrar em detalhes nesse assunto. Não foi por isso que eu vim. Hoje uma jornalista me procurou, querendo saber detalhes sobre sua vida”.

Meu maxilar trinca ao escutar isso. Maldita Deanna Johnson.

“Você não lhe deu informações, não é?” pergunto calmamente, sem me virar.

“É claro que não”, me volto para encará-la ao ouvir seu tom de voz. Ela está claramente ofendida. “Você acha mesmo que eu seria capaz de algo assim? Sou sua amiga desde criança. Sempre estive do seu lado, mesmo tendo que refrear meus sentimentos e, ainda assim, você tem a coragem de duvidar de mim?”

Passo a mão pelos cabelos, sem jeito. Droga, não foi isso que eu quis dizer. “Desculpe-me, eu me expressei mal. É só que essa mulher vem cercando outras pessoas para buscar algo que possa me comprometer”.

“Isso deu para notar”, responde mais calma. “Vamos ver: você dormiu com ela, não deu atenção suficiente e agora ela quer vingança”.

Dou de ombros. Não tem o que dizer sobre isso.

“Bom, o que você fez não me importa, mas sim o que ela pretende fazer. Tome cuidado. Uma mulher magoada é capaz de coisas que você sequer pode imaginar”.

“Ela não vai conseguir me atingir. Você sabe que sou cauteloso”.

“Eu não estava me referindo apenas a Deanna”.

Estreito os olhos tentando entender o que ela quer dizer, e sua sobrancelha perfeita se arqueia em resposta. Então, a obviedade da resposta vem com força.

Endireito a coluna. “Eva jamais faria isso comigo. Eu sei que não”.

“Então, você já sabe que a Deanna a procurou também”.

“É claro que sei”, digo entre dentes.

“Mas você tem garantias de que ela não falou nada?” ela cruza os braços. “Quer dizer, vocês não tem se falado, não é mesmo?”

“Eva é uma mulher de muito caráter. Eu a conheço o suficiente para saber que, mesmo tendo a magoado, ela jamais se vingaria de uma forma tão suja”.

“Mas você tem sido visto na companhia de Corinne com bastante frequência. Mesmo sabendo que Eva sente ciúmes dela. Você há de convir que motivos ela tem de sobra”.

Estou ficando irritado com essa insistência. “Eu já avisei a Corinne que não há nada entre nós além de amizade. Tentei apenas ser cordial com ela, mas a mensagem foi entendida de outra forma. Só isso”.

Um sorriso enviesado surge em seus lábios carnudos. Ela acaba de sacar alguma coisa. Pode até não ter certeza, mas ela sabe de algo.

“E você explicou isso a Eva?”

“Porque está tão interessada nesse assunto?”

“Nossa, para um voraz homem de negócios, você tem poucos neurônios” desdenha. “Vou ser curta e grossa: sou sua amiga e me sinto na obrigação de te ajudar”. Antes que eu possa retrucar, ela continua. “E nem vem com esse papo de que não preciso me preocupar porque você é grandinho o suficiente para resolver as coisas por si só. Se fosse o contrário, você não pensaria duas vezes em meter o bedelho na minha vida. Ou você já se esqueceu daquela... situação com o Christopher?”

Ouvir o nome do meu irmão faz meu sangue queimar de raiva. Aquele pedaço e merda teve a coragem de se aproveitar de um momento de fragilidade de Magdalene para me atingir.

 “Você não me deve nada por aquilo”, sussurro.

“Ei, isso não é uma troca de favor. Sou eu assumindo meu papel de amiga. Como você assumiu o seu de amigo quando desmascarou aquele crápula”.

Maggie, definitivamente, está diferente. Apenas a menção desse assunto lhe trazia um grande constrangimento. E agora, aqui está ela, de cabeça erguida, falando sobre isso com uma coragem e maturidade surpreendentes. É como se ela tivesse superado aquilo tudo e seguido em frente.

Suspiro em derrota. “Tudo bem”.

“Perfeito. Então você não vai se importar se eu passar na agência de publicidade aqui em baixo para sondar as coisas com a sua ex, não é?”

Endureço as feições e uso o tom de voz que não admite discussões. “Não. Você não vai fazer isso. Chega de encontros desastrosos. Ela não quer te ver e deixou isso muito claro da última vez. Já disse que Eva não revelaria nada a jornalista nenhum”.

“Ok”, diz simplesmente.

Franzo o cenho. “Ok?”

Ela dá de ombros. “É. Você deixou claro que não quer que eu tenha contato com ela, que não quer que eu a sonde. Ok”.

Tombo a cabeça para o lado, a analisando atentamente. “Não vai tentar me retrucar?”

“E porque eu faria isso?” pergunta de volta.

“Porque ignorar esse tipo de coisa não faz seu feitio”.

“Há muitas coisas que já não fazem meu feitio, Cross”.

“É. Eu notei”, continuo a encará-la, tentando decifrar o que mais ela tem para me dizer. Então, uma conversa que tive com Eva em um tempo não muito distante, estala em minha mente.



“Se você fosse apaixonada por outro homem, Eva, isso me mataria. Mesmo que você estivesse comigo e não com ele. Mas, ao contrário de Giroux, eu não abriria mão de você. Mesmo que não fosse toda minha, seria pelo menos um pouco, e eu já me daria por satisfeito com isso”, declaro.

“É isso que me assusta, Gideon. Você não sabe dar valor a si mesmo”.

Lanço-lhe um olhar debochado. “Na verdade, sei, sim. Doze bilhões de...”.

“Pare com isso”. Ela me interrompe, apertando os olhos com os dedos em sinal de impaciência. “Não é nenhuma surpresa que as mulheres se apaixonem por você. Sabia que Magdalene deixou o cabelo crescer só pra ficar parecida com Corinne?”

Isso é uma novidade. Tiro a calça e franzo o cenho. “Por quê?”

Ela suspira. “Porque ela acha que você é apaixonado por Corinne”.



Tudo o que Eva me disse naquele dia faz total sentido agora.

“Gideon?” ela me chama. “Sonhando acordado de novo?” olho para ela e vejo seu esforço para manter-se descontraída. “Mas o que está acont...”.

“Me explica essa mudança, Maggie”, eu a corto. “No visual, na atitude. O que aconteceu com você nesse tempo em que ficamos sem nos falar?”


Ela suspira. “Bem, uma hora ou outra iríamos chegar nesse ponto da conversa. Estava criando coragem para fazer isso, mas só após a visita de Deanna, eu tive um pretexto que me obrigasse a vir falar com você”.

Intrigado, eu me sento novamente no sofá e escuto em silêncio.

“Decidi que era hora de dar adeus ao que não faz bem para mim”, sorri sem muito ânimo. “Começar do zero, sabe? E que melhor maneira de inaugurar essa fase mudando o visual?”.

“Isso é ótimo. Mas estou vendo que não se trata apenas disso”.

Ela volta seu olhar para o copo em suas mãos, agora vazio. Fica em silêncio por alguns segundos antes de voltar a me encarar. “Não. Trata-se de tirar da minha vida tudo o que me faz mal. De pensar com mais clareza. De perceber o real valor que eu tenho e acreditar nele. Depois de tudo o que passei, estava na hora de pensar mais em mim e no que preciso, ao invés de tentar ser o que não sou e buscar a atenção de quem não corresponde ao que sinto”.

 “Decidi que não vou mais me contentar com menos do que mereço. Aquele... incidente entre mim e o Christopher jamais deveria ter acontecido. Não foi só ele quem errou. Eu também tive minha parcela de culpa. Eu me convenci de que ele era o mais perto que eu podia chegar do objeto do meu desejo, quando finalmente me dei conta de que jamais poderia realizá-lo”.

Engulo em seco, mas não digo nada.

“Tivemos motivos diferentes para agir daquela forma, é verdade. Mas nos movemos pelo mesmo sentimento para um com o outro: o egoísmo. Eu o usei para um determinado fim e ele me usou para outro. Simples assim. Pelo menos eu prefiro encarar dessa forma. É menos doloroso”, dá de ombros, sem olhar para mim. “De qualquer forma, cortei todos os laços de amizade que tínhamos. Eu o confrontei. Foi catártico. Uma verdadeira faxina na alma”.

Ela olha para o copo em suas mãos novamente, e respira fundo antes de continuar.

“Eu não vim aqui apenas para lhe avisar sobre Deanna. Mas também dizer que acho melhor que a gente não se veja por um tempo. Estou indo à terapia e aprendendo a me afastar do que não me faz bem. Nossa amizade sempre foi especial para mim, Gideon. Mas não pelos mesmos motivos pelos quais ela é importante para você. Quero me recuperar cem por cento. Estou em mais da metade do caminho, mas para essa cura ser completa, tenho que me afastar do que me enfraquece”.

Suas palavras me atingem como um soco na cara. De certa forma, me sinto culpado. Claro, nunca dei esperanças a ela, mas preferi ignorar seus sentimentos e mantê-la no plano da amizade como se nada estivesse acontecendo. E esse foi meu maior erro. Nunca parei para me preocupar com o quanto essa situação a afetava. Posso imaginar seu sofrimento quando comecei a me relacionar com Corinne.

“Deixei meu cabelo crescer, mudei todo o meu vestuário na esperança de que você visse em mim a mulher ideal para estar ao seu lado. Eu queria ser uma verdadeira cópia de Corinne para chamar sua atenção, porque acreditei que você a amava e eu queria ao menos ter a sensação de ter esse amor. Pode ser doentio, e é até certo ponto. Mas você sabe, melhor do que ninguém, o que é jogar seu próprio orgulho no lixo por alguém que você ama mais que a si próprio”. Sim, eu sei. E como sei.

Sua sinceridade me choca, mas me faz admirá-la e respeitá-la ainda mais.

“Eva não foi apenas o divisor de águas em sua vida”, continua sem voltar seu olhar para mim, e se concentra na tarefa de colocar o copo na mesinha de centro. “Ela também foi o meu. Através dela, percebi o tempo que estava perdendo dedicando meu bem mais precioso a alguém que nunca fez nada para merecê-lo: o meu coração”, ela põe a mão no peito. “Ele está cansado de se partir, de se humilhar, de se rastejar e de ser rejeitado. Estou cansada de me contentar com as migalhas. Eu mereço mais que isso”.

É claro que merece. Eu sempre desejei isso a ela. Mas nunca me preocupei de verdade com seu bem estar. Meu Deus, como sou egoísta! Como pude ignorar o sofrimento de uma das pessoas que mais quer o meu bem?

“Acho que cheguei a um ponto em que posso dizer com orgulho que não te amo como antes. Mas isso não quer dizer que me recuperei completamente do rastro de destruição que esse sentimento deixou em mim. Agora é a minha chance de me reconstruir, de me curar, sabe? Não me entenda mal, eu não te culpo de nada, não tenho mágoas de você. Afinal, você nunca me prometeu nada, não é mesmo?” sorri fracamente.

Mas suas palavras não são suficientes para aplacar minha culpa. Pego suas mãos nas minhas e as beijo com ternura. Vou sentir falta de minha amiga, é verdade. Sentirei falta de nossas conversas espirituosas, dos momentos importantes na minha vida em que pude contar com seu companheirismo. E é em nome de tudo que vivemos e do carinho enorme que sinto por ela, que me manterei afastado.

Olho para seu lindo rosto. “Mesmo que você diga que não lhe devo desculpas, tenho que pedir que me perdoe, por ter simplesmente ignorado seus sentimentos. Eu não fazia ideia do quanto você tinha sofrido durante todo esse tempo. Essa minha mania de olhar apenas para o meu umbigo, de tentar me proteger dos outros, me atrapalhou em muitos aspectos, me fez perder muitas coisas. Você é uma pessoa maravilhosa e merece alguém que te faça feliz, que te ame como você merece. Seja ele quem for, será um sortudo. E é bom que ele dê valor ao que tem nas mãos, ou será um futuro defunto. Aliás, quem é ele mesmo?” Porque está na cara que tem um homem na jogada.

Ela ri. “Boa tentativa, mas não vou te contar quem é. Ao menos não ainda. Não quero que você vire a vida dele pelo avesso. Essa é uma descoberta que preciso fazer sozinha. Contente-se em saber que ele me faz muito feliz. Ele tem sido tudo o que eu sempre quis e não sabia. Obrigada por sua preocupação, de qualquer forma”. Seus olhos marejados encontram os meus. “E, se é tão importante assim meu perdão, você o tem, meu amigo. É claro que eu te perdoo”, sussurra com a voz embargada.

Aperto suas mãos nas minhas e recebo seu leve aperto de volta, exatamente como fazíamos quando éramos adolescentes. Sorrimos um para o outro.

 “Bom, eu preciso ir”, soltamos nossas mãos e nos levantamos. “Você é um homem ocupado e eu tenho que organizar umas coisas para uma viagem que pretendo fazer em breve”.

“Se tem algo que eu gostaria de fazer nesse momento é viajar. Então, não me culpe por te invejar nesse momento”, ironizo.

“Cada suspiro seu vale milhões de dólares, mesmo que você esteja só babando no seu travesseiro. Você não deveria estar reclamando”, comenta divertida.

Solto um suspiro teatral. “Pois é. Ossos do ofício”.

“E depois o dramático é o Arnoldo”, revira os olhos. “Anda, use sua boa educação e me leve até a porta”.

Insisto em levá-la até os elevadores, mas ela recusa. “Não tem necessidade disso. De verdade. Acho que até aqui está ótimo”.

Respeito sua vontade. Não quero pressioná-la.

Nos despedimos com dois beijos no rosto. Ela vira de costas para ir, mas se volta em seguida, e sussurra. “Eu desejo toda a felicidade do mundo a você e a Eva. Vocês merecem. Eu sei que não acabou. Sei que estão juntos. Mas não se preocupe. Eu não conto se você não contar”, pisca. Suas palavras me deixam atônito.

Antes que eu possa dizer algo, ela se afasta. Sem olhar para trás.

E não faço nada a não ser deixá-la ir.

...

Narrador

Seria impossível, para qualquer pessoa, dimensionar o quanto aquela conversa significou para Gideon e Magdalene. Muitos podem até pensar que ela é uma pessoa odiosa, que só fez atrapalhar a vida amorosa de seu melhor amigo. Mas, não. Embora suas ações não tivessem sido exatamente nobres, e suas intenções de caráter puramente egoísta, ela o amou de verdade. E poderia me arriscar a dizer que ela seria capaz de compreendê-lo, não como Eva, mas com certeza, Maggie o aceitaria da forma que ele era. Contudo, eles não eram para ser. Eles nunca se pertenceram. E, quando a vida tem outros planos para nós, ela não pede permissão para mudar o curso.

Ninguém pode julgá-la ou acusá-la. Ela era humana e, portanto, agiu como sua própria natureza demandou.

Gideon recebera o perdão de que, até então, não sabia que precisava. E percebeu que sua superproteção com ele próprio, seu afastamento sentimental das pessoas acabou magoando os que realmente se importavam com ele. Foi assim com Eva, Ireland, chegou a fazer isso com Arnoldo, na época do assassinato de Nathan. E fez isso com Magdalene, por anos. Agora, ele sabe, mais do que ser digno de amor, e mais do que ser capaz de amar em vários níveis e de várias formas, ele sabe que deve respeitar o preservar aqueles que o amam e por ele são amados.

Quanto à Magdalene, ao dizer tudo o que esteve entalado em sua garganta tanto para Christopher quanto para Gideon, ela destrancou os grilhões que há muito aprisionavam sua alma. Ela libertou seu coração de uma tortura que talvez nunca terminasse se não tivesse percebido o quanto ele valia a pena. A jovem mulher compreendeu que, por muitos anos, viveu em função de outros, e nunca parou para pensar em como a Magdalene se sentia. Do que ela gostava? O que realmente queria da vida? Qual era seu estilo pessoal? Quais eram suas comidas preferidas, seus hobbies, seus desejos para o futuro? O que mais a atraía em um homem?

Ela não sabia. Não até conhecer Cage.

O belíssimo terapeuta que agora a esperava em um Renault Fluence prateado, e que assim que a viu, saiu correndo do carro, para lhe abrir a porta. Aquele gesto a fez sorrir abertamente, pois era uma das coisas que mais adorava nele: seu cavalheirismo à moda antiga. E sorriu também porque estava genuinamente feliz.

E livre.

Finalmente, livre.


E aí? O que acharam? 
Bom, esse é o último capítulo... do ano! Agora, vou dar uma pausa pra curtir as festas coma família e volto no dia 11 janeiro, ok? De agora em diante, teremos capítulo com mais frequência! 

No mais, desejo-lhes um Natal abençoado e um 2015 cheio de boas surpresas, paz, amor, prosperidade, din din no bolso e muita felicidade! Beijos a todos e até ano que vem :D

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