ATENÇÃO: LEIAM ATENTAMENTE AS NOTAS INICIAIS E FINAIS EM NEGRITO, POIS EXPLIQUEI TUDO ATRAVÉS DELAS, PORTANTO, NÃO RESPONDEREI A NENHUMA PERGUNTA SOBRE O QUE EU JÁ TIVER ESCRITO.
Oi pessoal! Bem, muitos de vocês devem estar dormindo, e vão acordar com essa dupla surpresa: capítulo novo e blog de cara nova! Espero que curtam!
Antes de tudo, gostaria de agradecer de coração à Lígia Lewis, minha leitora querida, a quem considero uma amiga, que me ajudou muito na pesquisa das questões jurídicas que serão tratadas neste capítulo. Obrigada de coração, flor!
Bom, enfim estou postando o penúltimo capítulo do livro; O último capítulo será postado no domingo e o epílogo na segunda, quando pretendo me despedir de vez da série. Vou explicar mais coisas nas notas finais, então, não as pulem, por favor, pois não vou explicar novamente.
No mais, boa leitura!
Viver é enfrentar um problema atrás do outro. O modo como você o encara é que faz a diferença.
― Benjamin Franklin
O
jatinho pousou no meio da madrugada em San Diego. Eu havia tomado um
café durante o trajeto, e comido algumas torradas. Não que eu estivesse
com fome. Mas me obriguei a comer algo para aguentar o que dia que terei
pela frente. Tinha que compensar o fato de que não pude sequer tirar um
cochilo de cinco minutos. Todo o tempo de que eu dispunha era pouco.
Raúl
veio comigo. Está pesquisando qualquer menção ao vídeo em leilões na
internet; também grampeou o telefone celular de Yimara, ficando de olhos
em todas as ligações feitas e recebidas, bem como mensagens de texto e
fóruns de bate-papo. Além disso, ele está usando mais de suas manobras
nada ortodoxas para obter as imagens originais. Eu preciso comprovar a
veracidade delas.
Muitos jornalistas já estão
cientes do vídeo, mas não irão publicar nada. Nem mesmo os mais sujos
que sempre estão atrás de qualquer merda que possa ser jogada no
ventilador. Não correndo o risco de serem processados e terem suas vidas
arruinadas. Todos sabem que me ter como inimigo nunca é uma boa ideia.
Ser um homem poderoso e influente tem suas vantagens.
Ainda
assim, a divulgação desse vídeo seria uma exposição escrachada da
intimidade de Eva, de um passado do qual ela não se orgulha, e que nunca
seria esquecido se viesse a público. Isso a destruiria a deixará no
fundo do poço. Sei que ela jamais tentaria se matar; não sabendo o
quanto isso acabaria comigo, mas ela nunca mais seria a mesma, o que por
si só, já seria o suficiente para destruir o que construímos até aqui,
principalmente o quanto avançamos após nossa dolorosa separação.
Do
outro lado do país, Angus está me mantendo atualizado de todos os
passos de Eva, e sua segurança em minha ausência foi reforçada.
Obviamente, ela não ficou nada feliz com meu sumiço repentino e, muito
provavelmente, pensou que eu estivesse fugindo de novo, o que não seria
uma surpresa. Tomei o cuidado de desligar o telefone clandestino que uso
para falar com Eva, apenas no caso de ela tentar me rastrear. Porque
com certeza, ela iria.
É incrível como o
paraíso pode se converter em inferno em um piscar de olhos. Há três
dias, eu estava vivenciando o momento mais sublime e importante da minha
vida. De volta ao mundo real, Corinne tinha tentado se matar por minha
causa e agora, Eva corre o risco de ter sua intimidade exposta por um
criminoso.
Sim, porque é exatamente isso que aquele cinegrafista amador é.
De
acordo com a pesquisa em tempo recorde feita por Raúl, e que passei a
viagem inteira lendo, Sam Yimara é um americano de origem asiática,
nascido e criado em Santa Monica, Califórnia, e conheceu o baterista dos
Six-Ninths quando se mudou para San Diego. Em seguida, ele fez amizade
com o resto da banda e passou a integrar a “equipe” gravando os shows
que eles faziam no Pete’s 69th e também os bastidores, além de reuniões
de confraternização.
Mas isso não é tudo.
Yimara
também gravou, sem autorização, fãs da banda e frequentadores do bar em
momentos comprometedores. Mas essa informação não será usada por ora.
Eu ainda vou me encontrar com aquele desgraçado pessoalmente com essa
carta na manga, mas primeiro, preciso de garantias de o que vídeo não
será publicado.
Arash Amani, chefe do setor
jurídico das Indústrias Cross e um dos meus amigos mais próximos, foi
chamado às pressas para embarcar comigo. Ele não ficou nada feliz em ser
retirado da sua cama no meio da noite, mas não fez nenhum comentário
atravessado ou piadinha idiota. A situação pedia total seriedade e o
homem que tenho a minha frente é um advogado sagaz, meticuloso e
completamente focado no trabalho.
Eu já havia
lhe falado de Eva, ele já vira várias fotos e matérias sobre nós na
internet; andou até fofocando com Arnoldo sobre ela, e estava louco para
conhecê-la pessoalmente. Ele sabe muito bem que Eva não é uma pessoa
leviana em minha vida; ele percebeu logo de cara o quanto mudei por
causa dela (para melhor, segundo ele) e, talvez por isso, ele esteja
ainda mais instigado com sua tarefa.
Eu não poderia ter confiado essa tarefa a outra pessoa a não ser ele. E eu soube de seu potencial no momento em que o vi.
O
Crossfire tinha sido inaugurado há apenas um ano e, ao contrário de
todas as expectativas, estava indo muito bem. Todos os andares tinham
sido alugados em menos de seis meses de funcionamento. Instalações
modernas, luxuosas e espaçosas. O investimento foi alto, mas o retorno
cobriu todas as despesas e foi mais além. A sede das Indústrias Cross
ocupava o último e maior andar. E foi uma de minhas viagens de negócios
que conheci Arash, e percebi o quanto seu inquestionável talento estava
sendo desperdiçado. Por termos quase a mesma idade, sendo ele apenas
dois anos mais velho que eu, e claro, pelo seu grande senso de humor,
acabamos nos tornando amigos. A partir daí, não demorou muito para que
eu lhe fizesse uma proposta irrecusável. Ele não pensou duas vezes antes
de deixar seu emprego.
Arash passou toda a
viagem preparando o acordo de compra e venda do bar onde o Six-Ninths
começou a carreira. Desde que vi o clipe de ‘Golden’ foi divulgado, eu
tenho pensado seriamente em adquirir o imóvel. E é exatamente o que vou
fazer. Ele também fez o contrato que pretendo oferecer a Yimara pelo
vídeo.
“Vai mesmo oferecer um milhão de dólares pelo vídeo?” ele me perguntou quando estávamos a caminho do aeroporto.
“Sim” respondi,
“e, se ele for o completo idiota que eu tenho certeza que é, irá bancar
o esperto e tentar faturar mais. Ele vai achar que vou ceder à
chantagem por querer manter o caso em sigilo”.
“Qual é o plano?” sorriu de lado, já sabendo que eu não daria ponto sem nó.
“Deixá-lo sem escolha alguma a não ser fazer um acordo comigo” dei de ombros. “Ele está desesperado e vai esgotar todas as chances que puder de levar vantagem nessa história”.
“Considerando que ninguém ousou comprá-lo ainda, ele tem motivos para estar desesperado”.
“Ninguém acha que vale a pena o risco pagar tão caro para ser massacrado depois”, dei um gole em minha água. “Yimara
vai negar minha proposta ao exigir mais dinheiro, e é aí que vou
encurralá-lo. Sendo o novo dono do bar, não vai ser nada difícil
encontrar as pessoas que foram filmadas ilegalmente por ele, assim como
será mais do que simples oferecer a todos, de forma anônima e gratuita, o
melhor advogado que o dinheiro pode pagar. E depois entender que foi um
completo idiota, ele vai assinar um contrato de transferência dos
direitos sobre o vídeo, e receber um cheque de duzentos e cinquenta
mil”.
Arash soltou uma gargalhada alta e grave. “Genial, Cross. Simplesmente genial!”
No
entanto, meus planos teriam de ser adiados. Charlie Johnson, o
segurança que designei para ficar de olho em Yimara, me informou por
mensagem que o cretino só conseguiu voo para o horário da noite. Ou
seja, ele vai estar chegando e eu indo embora. O bastardo sequer
desconfia que já estou tomando as providências cabíveis. E é essa
ignorância que pretendo usar ao meu favor. Tenho um dia de vantagem para
conseguir a liminar proibindo a veiculação do vídeo.
Agora,
estamos no carro que aluguei, a caminho do hotel. Arash ainda está
concentrado em seu laptop e eu em meu celular, mandando recomendações
para Scott.
San Diego ainda está mergulhada no
escuro, mas o sol começa a despontar. É uma bela cidade, mas dado o seu
significado, nada me apetece aqui.
Nos
hospedamos em um dos hotéis dos quais sou dono. No caminho até minha
casa, após o encontro com Deanna, eu tinha reservado a suíte
presidencial para mim e as suítes ao lado para Arash e Raúl.
Assim
que entro em meu quarto e fecho a porta atrás de mim, dou vazão à minha
ansiedade. Deixo minha mala num canto qualquer e coloco minha maleta na
mesa de café da manhã, juntamente com meu celular de uso diário, que
tiro do bolso da calça. Eu o deixei ligado porque Eva não tem como
rastreá-lo. Além disso, eu bloqueei seu número temporariamente, então
ela não seria capaz de me ligar ou mandar mensagens.
O
quarto é bastante espaçoso, e é divido em três ambientes: Um hall de
entrada, com uma mesinha de centro de madeira polida, uma poltrona e
dois sofás, todos em veludo azul; uma antessala com mesa de café da
manhã para quatro pessoas e uma vista incrível para a praia e, claro, o
quaro, com uma cama king size coberta por lençóis e fronhas de cetim
branco. Tudo muito minimalista, mas ainda sim luxuoso.
Tiro
toda a roupa e vou até o banheiro tomar uma ducha rápida para me
acordar do torpor que o jatlag me causa. Fecho os olhos em alívio ao
sentir a água quente batendo em meu rosto, molhando meus cabelos e
escorrendo por todo o meu corpo. Meus músculos relaxam imediatamente.
Pego o sabonete disponível na prateleira e começo ensaboar meu corpo.
Ainda de olhos fechados, tento imaginar as mãos de Eva sobre mim, me
acariciando com num misto de delicadeza e possessividade. Mas, a minha
cabeça insiste em pregar uma peça e acabo me lembrando de Corinne, o que
joga um enorme balde de água fria na fantasia que gostaria de criar.
Corinne.
Minha ex noiva, uma das pessoas mais importantes da minha vida, tentou se matar e abortou seu bebê no processo.
A
medicação que ela estava tomando estava alterando completamente sua
capacidade de julgamento, porque me recuso a acreditar que a Corinne que
conheço desde os tempos de faculdade seja capaz de algo assim. Embora
ela tenha ido até sua psiquiatra para trocar os remédios, é claro que o
corpo dela ainda ia demorar a se adaptar. As mudanças drásticas em seu
humor e comportamento fez com que seus sentimentos ficassem tão à flor
da pele chegando à beira do desespero e da loucura.
Pelo
menos era no que eu preferia acreditar: Que em seu estado normal,
Corinne jamais teria chegado a esse ponto. Principalmente depois de tudo
o que passei com meu pai. Ela não seria propositalmente leviana e
egoísta.
Não é?
Pensar
nisso faz todas as lembranças ruins virem à tona. Ainda me lembro de
quando fiquei sabendo de toda a verdade por trás da morte do meu pai.
Minha mãe tentou me poupar até que eu tivesse idade o suficiente para
entender. Principalmente quando comecei a ser atacado na escola.
Eu
nunca entendi porque todo mundo insistia em chamar meu pai de covarde.
Alunos, pais de alunos e até alguns professores. Todos devastados pela
tempestade de mentiras de Geoffrey Cross.
Antes
de minha mãe se casar com Christopher Vidal, nós quase perdemos tudo.
Oficiais do governo fizeram a limpa em nossa casa. Muitas coisas nossas,
fruto de anos de roubo, foram levadas à leilão. Chegamos a ficar de
favor em um apartamento da família de Magdalene porque também perdemos a
casa. Depois do casamento, fomos para a mansão de Christopher, que
nunca considerei um lar, ainda mais após os abusos que sofri.
Eu
só entendi realmente o porquê de tudo aquilo quando eu tinha nove anos
de idade. Minha mãe e meu padrasto decidiram que melhor seria se eu
estudasse em casa. Christopher tinha nascido e meu comportamento piorou
ainda mais, já que eu também brigava na escola.
Flashback
Eu
já tinha escutado a palavra suicídio algumas vezes, mas nunca entendi o
que aquilo de fato significava. E também nunca entedia quando ela
aparecia sempre que falavam do meu pai. Todos achavam que eu não estava
ouvindo, mas eu estava. Eu sempre estava.
Era
uma tarde de quarta e fiquei fechado em meu quarto fazendo a lição de
casa. Não era dia de Hugh e a psicóloga aparecerem. Naquela época, eu me
encontrava em dúvida se o que ele fazia comigo era bom ou ruim.
Christopher entrou sem bater e começou a pular na minha cama.
“Sai daqui. Christopher!” gritei, irritado. Eu odiava quando ele entrava no meu quarto.
“Covarde! Ladrão!” ele cantarolava.
“O quê?” fiquei chocado com o que saía da boca dele. Claro que eu já sabia o que aquelas palavras significavam.
“Covarde! Ladrão! Covarde! Ladrão”, ele cantava mais e mais alto. “Seu pai é um covarde e ladrão!”
Eu
não sei o que deu em mim naquela hora. Eu me levantei tão rápido e tão
de repente, que a cadeira caiu, fazendo um enorme estrondo no chão.
Senti meu corpo inteiro tremer. Eu já sabia o que era aquilo. Era a
raiva. Era o monstro em mim querendo quebrar tudo o que via pela frente.
“Cala a boca”, berrei. “Cala essa boca agora!”
Nessa
hora, ele arregalou os olhos e parou de pular no colchão. Avancei para
cima dele, mas por sorte, ele foi mais rápido ao descer da cama e
começou a correr. E eu fui atrás.
“Mamãe! Mamãe! Me salva, mamãe!” Christopher berrava.
Os
empregados que encontrávamos no caminho nos olhavam paralisados.
Tínhamos acabado de descer as escadas correndo quando consegui o puxar
pela camisa. Mas antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, braços
masculinos seguraram os meus, libertando meu irmão do aperto. Comecei a
me debater.
“Me solta, me solta!” eu gritava, mas Angus me abraçou forte e não me deixou sair.
Minha mãe apareceu na mesma hora e Christopher se escondeu atrás dela.
“Meu Deus, o que está acontecendo aqui?” ela me olhava de olhos arregalados.
“Mamãe” meu irmão chamou a atenção dela, “o Gideon tentou me quebrar igual ele quebra tudo aqui em casa”.
“Você chamou meu pai de covarde e ladrão”, falei com raiva.
“Mas é verdade”, ele disse sem sair de trás da minha mãe.
Rosnei e tentei mais uma vez sair dos braços de Angus, sem sucesso.
“Christopher!” ela o olhou, espantada. “De onde você tirou isso?”
“Na
escola”, ele deu de ombros. “Todo mundo fala isso. Hoje, o James disse
que ouviu o pai dele dizer que o pai do Gideon era um ladrão que roubou o
dinheiro de todo mundo e que era um covarde porque se matou para fugir
da polícia”.
Um silêncio pesado se
seguiu. Eu parei de me debater, mas Angus não me soltou. Tudo começou a
rodar. Mas eu só conseguia olhar para o Christopher, e pensar no que ele
tinha acabo de dizer. Foi ali que as coisas que as pessoas diziam sobre
meu pai faziam sentido. Porque todos passaram a me odiar, porque as
outras crianças queriam me bater. Porque todo mundo achava que eu era um
ladrão.
Igual ao meu pai.
Olhei
para minha mãe, esperando que ela xingasse o Christopher por ter dito
aquelas coisas, que era tudo mentira. Na verdade, eu esperava que meu
pai fosse surgir de qualquer lugar para rir e dizer que era tudo uma
grande brincadeira de esconde-esconde. Mas foi só olhar nos olhos de
Elizabeth, tão parecidos com os meus, e seu silêncio insistente, que
entendi que o que as pessoas diziam era verdade. E que a única que
mentiu para mim foi a pessoa que eu mais amava.
Por isso, ela preferiu que eu estudasse em casa.
Por isso ela quase nunca saía comigo.
Porque eu era filho de um ladrão covarde.
Meus
olhos começaram a arder nos cantos, minha vista ficou embaçada e meus
lábios tremeram. Um nó surgiu na minha garganta. Tão grande e tão forte
que não consegui segurar. Comecei a chorar. Forte. Alto. Cheguei a me
curvar pela dor que estava sentindo.
Dali
em diante, não me lembro bem o que aconteceu. A última memória que
tenho daquele dia, é a de Angus me pegando nos braços e me tirando dali.
Fim do Flashback
Coloco
minha cabeça debaixo do jato de água, numa tentativa de afogar esses
pensamentos torturantes. Há muito tempo eu não pensava nesse dia. Eu
nunca contei isso para ninguém, nem mesmo para Eva. Não é algo que eu
goste de falar sobre. Aquela foi uma das coisas mais marcantes e
dolorosas que já me aconteceu. Mantê-las no fundo da minha mente era o
melhor que eu podia fazer para meu próprio bem, ao invés de remoê-las.
Mas a tentativa de suicídio de Corinne trouxe tudo à tona novamente.
E
agora, preciso tentar afundá-las de novo em meu subconsciente. Não há
tempo para me lamentar. No entanto, para me livrar disso de vez, e
acabar com toda essa agonia por quase perder mais uma pessoa íntima para
o suicídio, decido ligar para saber como minha ex-noiva está.
Termino
o banho, pego a toalha e saio do banheiro me secando. Em seguida coloco
uma camisa e uma calça folgados, e pego o celular em cima da cama. Eu
tinha guardado o número pessoal de Jean-François graças à transação que
fizemos. Não é uma boa ideia ligar para Elizabeth ou para os pais dela.
Depois de três toques, a voz carregada de sotaque francês responde com uma voz áspera e nada amigável.
“Giroux”.
“Aqui é Gideon”.
Ele bufa. “Dites-moi ce que vous voulez (me diga logo o que quer).
Ignoro seu tom pois sei que ele tem muitas razões para tão ríspido. Bem, mais ríspido que o normal, pelo menos.
“Liguei para saber se Corinne já recebeu alta”.
“Vai receber daqui a pouco”.
Já vi que vou ter que cavar mais se quiser saber as coisas. “Como ela está hoje?”
“Eu não sei, Cross” fala com deboche.
“Como será que uma mulher fica depois de saber que matou o próprio
filho ao tentar suicídio por um homem que não dá a mínima pra ela?”
Suas
palavras são um tapa na minha cara. “Ela estava descontrolada por causa
dos remédios. A Corinne que conheço nunca faria isso”.
“É claro que não faria!” grita. “Eu
a conheço há muito mais tempo que você, Cross! A mulher que conheci não
tem nada a ver com a mulher que ela se tornou depois que se envolveu
com você!”
“Não vem com essa!” rebato. “Você
sabe muito bem que foi a medicação foi o que alterou o humor e o
comportamento dela! Vai querer por a culpa disso em mim também?”
“Você está querendo dizer que não tem culpa de nada? Que é um santo?”
“Você nem sabia que Corinne estava se consultando com um terapeuta! Não sabia dos remédios. Fui eu quem tive que te avisar!”
Não ouse insinuar que não me preocupo com ela”, rosna.
“E
nem preciso”, debocho. “Se você não fosse tão ridiculamente orgulhoso,
teria vindo atrás dela muito antes de tudo isso virar uma bagunça! Você
nem ligou para saber como ela estava! Como você queria salvar esse
casamento? Com indiferença? Você não a tratou muito diferente de como os
pais dela a trataram quase a vida inteira!”
Ele fica completamente calado.
E percebo que fui muito duro. Jean-François também perdeu um filho. Um filho muito desejado por ele também.
Respiro
fundo, e falo com a voz mais calma. “Olha, Giroux. Eu não posso
imaginar a dor que você sentiu. Você também perdeu seu bebê. Mas agora,
você e Corinne vão precisar um do outro mais do que nunca. Vá até a
psiquiatra dela e converse sobre tudo isso”.
Ele pigarreia antes de se pronunciar. “Eu vou falar com ela. Vamos resolver isso”. Sua voz sai ligeiramente rouca.
“Certo. Bom, eu preciso ir. Espero que fique tudo bem”.
“Our revoir”, e desliga.
Sento-me pesadamente na cama, pensando em tudo o que Corinne vivemos desde o começo até agora.
Será que eu realmente não tenho uma mínima parcela de culpa nisso?
Eu
deixei a porta aberta para Corinne, nunca encerrando nossa história, e
isso lhe deu esperança para pensar que poderia me ter de volta. Ela se
casou com outro no intuito me fazer perceber que a estava perdendo,
sendo que de fato, ela nunca foi minha e a recíproca era ainda menos
verdadeira. O sentimento de posse que eu tinha sobre ela quando nos
relacionamos nada tinha a ver com amor.
Nosso
envolvimento foi problemático em vários níveis. Naquela época a atração
por Corinne havia me dado a oportunidade de experimentar a liberdade
sobre meu próprio desejo sexual. Eu estava livre de Hugh e sua
influência monstruosa. Eu tinha o poder de escolha. Se eu não quisesse
transar com ninguém, eu diria não e assim seria. Por isso eu a levava
para o “matadouro”. Porque ali somente minhas regras valiam. Nós só nos
encontrávamos quando eu queria e ela aceitava, pois não poderia me ter
de outra maneira.
Mas com o tempo isso não
bastou para Corinne e ela quis mais. E quanto mais ela tentava se
entranhar no meu mundo, mais eu a queria distante, e assim, eu mesmo me
distanciava. Eu não iria permitir que alguém tentasse me convencer a
fazer coisas que eu não queria fazer ou me obrigar a me sentir de um
jeito que eu não me sentia. Ela havia se tornado uma ameaça a minha
liberdade e, por isso, me senti tão aliviado quando tudo acabou.
Hoje,
sei que nós não poderemos nunca ser amigos. Ela nunca aceitaria, porque
é de sua natureza sempre querer mais, sempre buscar mais.
Eva
foi e sempre será a única mulher a me fazer mover céus e terra para
manter ao meu lado; a única que me faria abrir mão de tudo e qualquer
coisa para não perder. E é por causa dela que estou aqui agora.
Meu celular vibra em minha mão, me fazendo olhar para a tela imediatamente. É uma mensagem de Raúl.
*Já recolhi todas as informações necessárias. Também consegui o vídeo. Acabei de enviar para sua conta privada.*
Meu
corpo tenciona e engulo em seco. Raúl foi encarregado de achar o vídeo,
mas somente eu o veria. Por mais que confie nele, tudo tem um limite.
Eu jamais deixaria alguém vê-la em um momento tão íntimo. Respirando
fundo, deixo meu celular em cima da mesa, me sento e abro meu laptop.
...
Narrador
Ao
abrir a tela de seu laptop, Gideon se depara a com a visão mais bela
que já teve: o rosto de sua amada Eva, sem maquiagem e sorrindo. As
sardas em seu nariz são tão adoráveis, que ele se encontra incapaz de
sentir na menos que um imenso sentimento do possessão e proteção em
relação a ela. O sorriso em seus lábios era tão sereno e sincero. E é
assim que sempre vai ser, pensou ele. Afinal, o empresário já deixou
mais do que claro que faria absolutamente tudo o que fosse necessário
para que sua esposa fosse feliz.
Foi pensando
nisso que ele deixou seu coração repleto de amor de lado e se focou no
que precisava saber. Mexeu no mouse para desligar o descanso de tela e
foi verificar seus e-mails. De repente, ele sentiu todo o seu corpo ser
sacudido por uma onda de medo e angústia. Ali, no topo de todas as
mensagens que havia recebido, estava um e-mail de Raúl, cujo anexo
trazia o maldito vídeo. Gideon não se importava com os métodos que as
pessoas que trabalhavam para ele utilizavam para resolver um problema ou
chegar a um determinado fim, desde que agissem com rapidez e
eficiência.
Um arrepio gelado subiu para sua
espinha ao clicar no e-mail. Ele sabia que o que estava prestes a ver
partiria seu coração em milhões de pedaços. Se a cena de Eva e Kline se
beijando no show já o atormentava todos os dias, o efeito do que veria
nesse vídeo seria devastador. Em dimensões monstruosas. Mas ele
precisava verificar a autenticidade das imagens. Apesar de Yimara ser um
criminoso que filma pessoas sem a permissão delas, era bem possível que
ele pudesse ter feito uma manipulação com as imagens.
E, de todo o coração, Gideon queria muito que aquelas imagens fossem falsas.
Respirando fundo, ele clicou no anexo, e o player de vídeo se abriu.
...
Gideon
A
primeira imagem é de Brett entrando em um banheiro imundo e caindo aos
pedaços com uma mulher no colo. Eles se beijam com loucura, como se suas
vidas dependessem disso. Minha mão começa a tremer violentamente ao
reconhecer os cabelos longos e loiros, a bunda empinada e bem destacada
pelo jeans apertado e a base das costas exposta pela mini blusa branca.
É
ela. Meu anjo. Sentindo um prazer absurdamente carnal nos braços de
outro homem. E não de qualquer homem, mas nos de Brett Kline, a única
pessoa capaz de pôr em cheque tamanho dos sentimentos de Eva por mim.
Meu
estômago começa a dar voltas, um nó se forma em minha garganta e meus
olhos ardem. Eu quero sair correndo daqui. Mas não posso parar de
assistir. Ainda não.
Ele se senta em um vaso
sanitário que mais parece uma lixeira. Eva está montada em suas coxas,
de frente para ele. Seus quadris se esfregam freneticamente nos dele por
cima das roupas. Kline coloca uma mão em cada lado das nádegas dela, e a
puxa para si. Em seguida, inicia uma trilha de beijos do queixo ao
pescoço. E Eva se entrega, erguendo a cabeça para lhe dar mais espaço.
Então, ela solta um gemido. Algo que sempre me deixa com tesão e, pela
primeira vez, me causa aversão.
É assim que ela fica quando está nos meus braços? Ele
a faz sentir do mesmo jeito que eu? Será que, para ela, a única
diferença entre mim e Kline é que eu nunca a comeria num banheiro de bar
de quinta categoria?
Ele volta a
beijá-la na boca de forma feroz, sendo correspondido da mesma maneira.
Mas é quando ela coloca a mão na barra da camisa dele para puxá-la, que
eu decido que já vi o suficiente. Pelo menos por agora. Parei o player, e
encostei minha testa na no tampo da mesa.
Minha cabeça girava, e tudo em volta de mim era um completo borrão.
Será
que Eva não sabia mesmo que estava sendo filmada? Ela me disse que,
durante o tempo que morou em San Diego, para fugir da mãe e do que
sofreu nas mãos de Nathan Barker, se mostrou ser o tipo que fazia de
tudo para ser notada e amada, e usava o sexo para isso.
De fato, a forma como Eva se comporta no vídeo mostra que seu comportamento não devia em nada a qualquer groupie
louca para trepar com um vocalista de banda. No entanto, ela nunca
negou que foi apaixonada por Kline, mesmo tendo feito questão de frisar
que ele fazia parte de um tempo de sua vida do qual se envergonha.
Talvez
ela tenha se deixado filmar, mas não se lembra; naquela época, ela
fazia de tudo para ser vista com Kline, aceitando ser fodida em qualquer
lugar que ele quisesse. Eva pode até nunca o ter amado, mas não é nada
fácil esquecer uma paixão tão ardente e carnal como a que ambos tiveram
um pelo outro; isso sem mencionar que a história deles nunca teve um
ponto final.
As palavras de todos eles parecem estar sendo gritadas em meu ouvido.
As palavras de Kline...
“Não
importa quem você seja ou o que há entre vocês. Eu sei que Eva sente
algo por mim e eu confio nesse sentimento. Vou lutar com tudo o que
tenho, para tê-la em meus braços de novo!”
As palavras de Arnoldo...
“Eva não me parece ser do tipo que tem certeza das coisas. Ela é volúvel”.
As palavras de Corinne...
Sabe
o que foi aquele beijo, Gideon? Foi um aviso de que você não é tão
amado assim. De que você pode ser substituído a qualquer hora. Que nunca
a terá por inteiro, porque você, por si só, não é o suficiente para
mantê-la ao seu lado!
E agora, esse vídeo.
A
possibilidade de perder Eva nunca foi palpável. Porque agora, o beijo
deles ganhou um sentido novo. Não foi só por causa de Corinne. Mas
também porque revê-lo trouxe à tona todos os sentimentos que que ela
nutriu por ele durante tanto tempo e que estavam apenas adormecidos.
Mas
ela também pode não saber que foi filmada. Afinal, quem iria querer ver
uma situação degradante ser eternizada assim? Eva sabia que aquilo não
era saudável, mas aquela era sua válvula de escape, e eu mais do que
ninguém entendia isso.
Respiro fundo e,
mentalmente, conto até vinte, numa tentativa de me recompor e me focar
no que preciso fazer. Independentemente de ela ter aceitado aquilo ou
não, ter um momento tão íntimo exposto para todo o mundo, é uma história
bem diferente.
E eu tenho que evitar que isso aconteça, custe o que custar.
<<<>>>
“Yates aceitou na hora”, Arash diz com seu perspicaz sorriso nos lábios. “Ele ficou mais do que satisfeito com a quantia que oferecemos. Fomos ao cartório e oficializamos tudo. O bar é todo seu”.
Durante
o almoço, Arash se reuniu com Gary Yates, dono do Pete’s 69th Street
Bar, onde o Six-Ninths começou a tocar. Ele o contatou um pouco depois
das oito. A minha ideia era lhe fazer uma proposta nem muito grande, nem
muito pequena, mas ainda assim irrecusável, pela compra do imóvel. Meu
advogado já tinha preparado toda a documentação.
Raul e eu fomos buscá-lo em um local perto do cartório. Agora estamos a caminho do fórum.
“Pelo menos isso está resolvido. Bom trabalho”.
“Obrigado”, ele acena com a cabeça.
“Agora, vamos à ordem judicial”.
Arash
se endireita em seu assento e seu semblante sorridente se transforma em
uma carranca séria e profissional. “Veja bem, a liminar em si não
demora a ficar pronta, desde que suas alegações sejam verdadeiras. O
fato de você ser uma pessoa influente conta muito para agilidade da
expedição do documento, mas você não é a única pessoa influente a
procurar esse tipo de serviço e com tanta urgência. Estamos na
Califórnia. Capital dos ricos e famosos. Os advogados aqui fazem acordos
com o pé nas costas, além de serem velhos conhecidos dos fóruns. Por
isso, se quiser passar na frente, vai ter que negociar”.
Pensar nisso traz um gosto amargo à minha boca. Odeio dever coisas aos outros, mas não tenho tempo para me lamentar.
“Quando
o juiz avaliar seu caso”, Arash continua, “ele vai precisar conferir a
veracidade de suas alegações e, uma vez sendo comprovadas, ele julga a
causa ao seu favor pelo termo Fumus boni iuris (fumaça do bom
direito). Isso quer dizer que há indícios ou evidências que asseguram o
pedido do solicitante. Lembrando que a liminar é temporária. Ela não
assegura seu direito sobre as imagens, pois essa ainda não é a etapa em
que esse recurso é julgado, mas garante o seu direito de não querer que
elas venham ao público. Portanto...”.
“Tenho que colocar meu plano com Yimara em prática antes que a audiência seja marcada”, completo.
“Sim”.
Torço
os lábios, frustrado. Se Yimara já estivesse em San Diego, isso poderia
ser resolvido hoje mesmo, mas de acordo com Raul, os planos mudaram, e
ele só conseguiu passagem aérea para retornar esta noite, num horário em
que pretendo já estar de volta a Nova York.
“Mas
calma”, ele chama minha atenção. “O tempo de espera para que uma
audiência desse tipo seja marcada é de dois meses, no mínimo. É tempo
mais que suficiente para você agir”.
“Porque você não disse logo?” olho feio pra ele.
“Você que se precipitou fazendo essa cara de bunda”, se defende.
Antes
que eu possa lhe dar uma resposta bem mal-educada, o carro para, e ele
sai rapidamente, sem ao menos esperar por Raúl. Covarde.
Ele diz e sai rapidamente do carro, sem ao menos esperar por Raúl. Covarde.
Quando saio, meu motorista já está segurando a porta.
“Enquanto
eu estive lá não vou poder atender o telefone” digo a ele. “Mantenha-se
informado com Angus sobre a senhora Cross e me avise quando
retornarmos”.
“Sim, senhor”, ele dá um aceno rápido de cabeça.
Antes de entrarmos no fórum, Arash se vira para mim, lançando seu olhar afiado. Ele está mais do que pronto para esse desafio.
“Vamos lá, Cross. Hora de usar todo o seu charme”.
<<<>>>
Arash
estava coberto de razão. Não é nada fácil conseguir a expedição de uma
ordem judicial em um período tão curto de tempo sem ter influência e
algo a oferecer. A burocracia em torno desse tipo de pedido é muito
maior do que se imagina, mas com o incentivo certo, você sempre sabe o
que é melhor.
Eu saí daquele fórum devendo muitos favores.
Fiquei
devendo ao funcionário que me nos atendeu, por ter pedido a um outro
funcionário, responsável por encaminhar os pedidos ao juiz de plantão,
para passar o meu caso na frente. Fiquei devendo a esse segundo
funcionário, que de fato deu prioridade ao caso. Fiquei devendo à
secretária do juiz, que teve de remarcar muitos dos compromissos dele
para que meu caso fosse avaliado no mesmo dia. E, claro, fiquei devendo
ao juiz, que passou boa parte da tarde averiguando pessoalmente a
veracidade das minhas alegações.
Mas, finalmente, saí de lá com a liminar em mãos. Foi cansativo, estressante, e por vezes frustrante, mas valeu a pena.
Agora,
de banho tomado e roupa trocada, estou terminando de arrumar minha
mala. Iremos embarcar no jatinho dali a uma hora e a previsão é que
cheguemos à Nova York por volta das onze da noite.
Estou fechando o zíper da bagagem quando meu celular vibra no bolso. Eu o pego e desbloqueio a tela. É uma mensagem de Arnoldo.
*Gideon, onde você está? Eu te disse para me ligar. Estou preocupado*
Franzo
o cenho. Arnoldo raramente me chama pelo nome, a não ser que seja algo
muito sério. Então me lembro de que fiquei de entrar em contato com ele
depois de ir até a casa de Corinne, mas nem mesmo mandei um SMS. E a
essa altura, ele já deve estar sabendo da tentativa de suicídio. E deve
estar surtando!
Droga! Ele deve estar furioso comigo!
Rapidamente aperto o botão de discagem rápida.
Arnoldo atende no primeiro toque.
“Ciao..”.
“Per l’amor di Dio (pelo amor de Deus), Gideon!” ele me corta sem perceber. Parece aliviado em falar comigo e não há traço de irritação em sua voz. “O que diabos está acontecendo?”
“Desculpe eu não ter dado notícias. Esses dias têm sido uma loucura!”
“Deu
para notar! Primeiro você lida com Eva, Brett e aquele videoclipe.
Depois, Giroux na cidade e agora Corinne quase sem matando e sofrendo um
aborto?”
“Como ficou sabendo sobre Corinne?” me desvio deliberadamente da menção de Eva e Kline.
“Minha mãe me contou. Ela e Elizabeth conversaram. Ma prima di tutto (mas antes de tudo), como você está?”
Esfrego
a ponte do nariz com o polegar e o indicador. “Eu não faço a menor
ideia de como me sinto. Eu só... Está tudo uma tremenda bagunça do
caralho”.
“Vamos por partes. Comece pela Corinne”.
Explico tudo o que aconteceu, desde o dia do lançamento do clipe.
“Você estava certo sobre a medicação”, concluo.
“Dio Santo”, murmura. “Que coisa mais triste. Espero que ela fique bem. Vou deixar a poeira baixar ligar para ela daqui há alguns dias”.
“Eu
liguei para Giroux para saber como ela está. Ela está na casa dos pais.
Está bem melhor, mas chorou muito quando soube do bebê”.
“Eu posso imaginar o quanto ela está sofrendo”, comenta. “Eu me lembro que ela estava tentando engravidar há um bom tempo”.
Pensar no bebê dá um aperto no coração. “Pois é”.
“Como você se sente em relação a isso?”
Por
alguma razão desconhecida, sua pergunta me irrita. “O que você quer que
eu diga? Ela tentou tirar a própria vida por minha causa!”
“Pode parar por aí” rebate. “A Corinne estava alterada por causa dos remédios, lembra? Ela não é esse tipo de pessoa”.
Franzo
o cenho, sentindo-me desconfortável por essa torrente de emoções que
não consigo controlar. “É exatamente o que venho dizendo a mim mesmo
toda a vez que penso nisso”.
“Para começar,
foi aquela jornalista de merda quem se meteu onde não deveria e piorou o
surto da Corinne. E quem não nos garante que o Giroux não fez alguma
coisa? Ele estava com ela na hora, não estava?”
Nessa
hora eu percebi o quanto tenho escondido de Arnoldo sobre minha vida,
coisa que nunca tinha efeito, com exceção dos pesadelos. Por mais que eu
não precise de sua aprovação, ele ainda é meu amigo e não quero
perdê-lo.
“Gideon? Você está aí?” A voz dele me tirou dos meus pensamentos.
“Tem uma coisa que eu preciso te contar”.
“Che cosa sta sucedendo (o que está acontecendo)?” sua voz é pura preocupação.
“Corinne tentou se matar porque Jean contou que Eva e eu estamos noivos”, despejo de uma vez.
Acho que ele ainda não está pronto para saber que já estamos casados, dado o receio que tem em relação a Eva.
Do outro lado da linha, não ouço nada além de um silêncio sepulcral.
“Arnoldo?” eu o chamo depois de um bom tempo. Será que a ligação caiu?
“Vocês estão o quê?” ele finalmente se manifesta.
“Noivos”.
“Quando?”
Nós
nos aproximamos durante o lançamento do clipe. Resolvemos que não
poderíamos mais viver um sem o outro. Viajamos durante o fim de semana e
fiz o pedido”.
Eu me sinto mal por estar mentindo para o meu melhor amigo, mas não posso contar nada agora.
“Santa Madre di Dio (Santa Mãe de Deus)! Você vai...”, e para de falar.
“Algum problema?” fico na defensiva. “Eu já tomei minha decisão, Arnoldo. Não tem volta”.
Ele fica em silêncio novamente. “Va benne (está bem). Meus parabéns”.
“Obrigado”, respondo, sem querer entrar em uma discussão.
“Estou feliz em saber que você está bem”, diz sem nenhuma emoção.
“Você poderia ao menos fingir”, ironizo.
“O que quer que eu diga? Você está certo. Faça o que tem que fazer. Não precisa da minha aprovação nem nada do tipo”, ouço um barulho no fundo. “Olha,
eu te liguei só para saber como você está após toda essa loucura, e
estou realmente feliz que esteja bem. É isso que me importa para mim”.
Sua mensagem nas entrelinhas fica mais do que clara.
“Obrigado
por ligar, Arnoldo”, eu digo, num tom conciliatório. Não
quero que fique um clima ruim entre nós. “Eu realmente precisava
desabafar sobre tudo isso”.
“Não precisa
agradecer. Só não se sinta culpado pelo que houve com Corinne ou com o
bebê. Ela estava fora de si, mas tenho certeza que ela jamais teria
feito o que fez se soubesse que estava grávida. E mande o Giroux ir à
merda. Ele precisa parar de choramingar como um bebê e assumir os seus
erros no casamento deles ao invés de jogá-los em você”.
Seu tom de voz anormalmente calma e passivo me assusta.
“Talvez possamos marcar algo para fazer. Sair para beber ou algo assim”, nós realmente temos que conversar pessoalmente.
“Você me conhece. Eu nunca resisto a um convite que envolva álcool de boa qualidade”,
essa é a primeira brincadeira que ele faz desde o início da ligação,
mas não há nenhum traço de sua característica alegria esfuziante. “É só me avisar o dia e a hora”.
“Eu vou”.
“Arrivederci”, ele se despede e desliga.
Tiro o telefone do ouvido e o encaro.
Arnoldo nunca se despede assim, tão seco e lacônico. Ele também não me chamou de stronzo uma única vez, ou me xingou por agradecê-lo.
Coloco
o aparelho de volta em meu bolso, ergo a cabeça, fecho os olhos e passo
as duas mãos pelos cabelos. Minha cabeça só tentando racionalizar
alguma solução, sem nenhum sucesso.
Eu não
achava que Arnoldo se sentia tão reticente com Eva esse ponto. Não que a
opinião dele altere alguma coisa. Mas também não quero que nossa
amizade se perca. Nós precisaremos ter uma conversa cara a cara para nos
resolver. Uma conversa que, com certeza, será fácil para nenhum de nós.
Isso é um grande problema.
Mais um, de muitos outros grandes problemas que não param de surgir.
<<<>>>
A
viagem de volta para Nova York foi ainda pior do que a ida. Claro que
estou mais tranquilo com a liminar em mãos, mas não o bastante. Estou
física e emocionalmente esgotado.
Sei que
deveria ter ficado em nosso apartamento assim que deixei minha mala
perto da porta, ao invés ir até o dela, mas não pude resistir. Tenho que
vê-la e tocá-la, nem que seja por meros segundos. O cansaço está me
comendo vivo, o que elevou minha irritabilidade a níveis
estratosféricos.
Fecho a porta atrás de mim e
ando pelo pequeno hall. Ao pisar na sala, meus olhos vão diretamente
para o corpo voluptuoso de minha esposa deitado no sofá. Meu coração
bate mais forte no mesmo instante. Apesar de minha vontade imensa de
correr em sua direção, não quero correr o risco de acordá-la. Por isso
vou me aproximando a passos lentos, me abaixo em um dos meus joelhos e,
suavemente, coloco uma mexa loira que está tampando seus olhos para trás
de sua orelha. Ela parece tão pacífica em seu sono. Olhar para seu
rosto após quase dois dias sem vê-la, é como estar no céu.
Não
sei por quanto tempo a encaro. A saudade é demais e eu realmente não
estou contando. Além disso, não consigo parar de pensar que quero manter
aquela serenidade em seu rosto enquanto eu viver. E, uma das coisas
mais importantes que eu tinha que fazer para que isso seja possível, é
impedir que aquele vídeo seja divulgado.
Por
fim, eu a pego delicadamente para levá-la até seu quarto. Sei que corro o
risco de acordá-la, mas nunca poderia deixá-la dormindo no sofá. Assim
que a tenho em meus braços, sinto sua cabeça se apoiar em meu peito.
“Onde você estava?”, murmura quando já estamos em seu quarto.
“Na Califórnia”, respondo. Eu não quero mentir.
Ela se sobressalta. “Quê?”
Sacudo a cabeça negativamente. Não é hora de falar nisso. E eu não quero. “De manhã a gente conversa”.
“Gideon...”.
“De manhã, Eva”, digo com seriedade, antes de colocar-lhe na cama e lhe dar um beijo na testa.
Sua mão agarra meu pulso quando fico de pé. “Nem pense em me deixar aqui sozinha”.
“Eu não durmo há quase duas merdas de dias”, minha fala sai quase como um rosnado, tamanha a minha irritação.
O
que eu mais quero é envolvê-la em meus braços e ficar o resto da noite
sem soltá-la. Mas não posso. O risco de atacá-la é gigante, já que não
durmo desde a noite no hospital e, portanto, não tenho tomado a
medicação. Sem contar a enorme pressão emocional que estou sofrendo.
“Então vem dormir aqui comigo”, pede com a voz sonolenta.
Bufo de frustração, sabendo que ela insistirá nisso até eu ceder.
“Espera aí. Vou pegar o meu remédio”, digo e saio do quarto.
Sem
fazer ruído nenhum, vou para o apartamento ao lado, sabendo que Eva não
aguentará me esperar acordada. Ela não consegue pensar claramente nesse
estado, no perigo iminente que correrá se nós dividirmos a cama. Por
mais que me doa, não dá pra arriscar.
Quando
chego à suíte, tiro a carteira, o celular e as chaves dos bolsos, me
livro das botas e caio de bruços na cama de casal, sem nem mesmo tirar a
roupa. Estou cansado demais para pensar em qualquer outra coisa.
“Gideon”,
ele olha para mim com ternura. “Que tal você colocar mais uma torre do
outro lado? Um bom castelo deve ter muitas torres”.
Os
olhos do papai não são azuis como meus e os da mamãe. Os dele são
verdes, bem claros, quase transparentes. Seus cabelos são marrons como
terra e têm ondas como as do mar; mas sua pele é escura como a minha. Eu
gosto muito dele e gosto muito de fazer castelos de areia com ele.
Como um bom menino, eu me levanto, segurando meu balde vermelho, cheio de areia úmida e vou para o outro lado fazer a torre.
“Terminei. Está bom assim, papai?”, pergunto ansioso para saber se tinha feito certo.
Ele sorri. “Sim, meu filho. Exatamente. Bom trabalho”.
Eu sorrio também. Ele está orgulhoso de mim e isso o deixa feliz. Eu amava ver o papai feliz.
De repente, ele se levanta. “Você pode fazer isso sozinho agora, Gideon”.
Eu o olho sem entender. Ele não quer mais fazer castelos de areia comigo?
“Você
pode construir suas próprias coisas sem mim”. Ele sorri de um jeito
triste, e começa a andar para longe, mas sem virar as costas pra mim.
“Você é muito melhor do que eu”.
De
repente, eu já não sou mais uma criança. Estou mais alto e vestido de
terno e gravata. Não entendo como isso aconteceu tão rápido.
“Porque, pai? Porque você me deixou? Eu não sou bom o suficiente pra você?”
Ele
balança a cabeça. Seu sorriso não existe mais e sua testa está
franzida. “Não, meu filho. Eu é que não sou bom o suficiente pra você.
Eu nunca seria”.
Ele se afasta depressa. Eu quero ir atrás dele, mas meus pés não saem do lugar.
“Gideon”, reconheço a voz do meu anjo no mesmo instante.
Eu
me viro para trás e lá está Eva, olhando para mim, com as duas mãos
estendidas. Ela está usando o vestido de nosso casamento secreto no
Caribe.
“Eu preciso de você” ela fala. “Eu preciso que você me salve”.
Eu quero ir, mas meus pés estão afundados na areia. Eu me movo desesperadamente, mas não consigo sair do lugar.
“Você é forte, Gideon. Você vai ficar bem”, meu pai diz atrás de mim.
Eu me viro em sua direção, mas ele está longe demais para que eu possa alcançá-lo.
Sinto meus olhos arderem. “Papai...”.
“Adeus,
meu filho”, sua voz soa como se ele ainda estivesse perto de mim. “Vá
alcançá-la. Você não precisa de mim. Você consegue fazer isso sozinho”.
Não hesitei em olhar para Eva novamente. Ela não sai de seu lugar. Apenas continua me olhando, com as mãos estendidas para mim.
Quando
tento andar até ela, me sinto afundando ainda mais na areia. Ao olhar
para baixo, vejo que estou soterrado até os joelhos. Estendo meus braços
para ela, flexionando meus dedos como se isso fosse me ajudar a
alcançá-la. Solto um grunhido pelo esforço, e meu rosto está coberto
pelas lágrimas de pânico. Eu prometi protegê-la. Prometi estar lá por
ela, mas não estou conseguindo.
Quanto mais me debato, mais me afundo na areia, e mais longe ela fica de mim.
“Gideon”, sinto uma sacudida forte em meu ombro. “Acorda”.
Desperto
assim que meu corpo reconhece a voz de Eva e seu toque, do qual fujo
instintivamente, ao rolar para o outro lado da cama. Só no segundo
seguinte que reparei as lágrimas quentes escorrendo pelas minhas
bochechas e os meus gemidos carregados de dor. Estou fragilizado demais.
Cansado demais. É muito para carregar sozinho.
Ignorando
a distância que impus, Eva se deita ao meu lado e me abraça pela
cintura. Seu carinho me comove e me fez chorar ainda mais. Eu me rendo e
deixo que meu anjo embale minha tristeza, enquanto molha minha camisa
com a sua própria.
Não sei dizer quando peguei
no sono exatamente. As únicas coisas que consigo distinguir no momento
em meio à névoa de sono são os pelos do meu corpo eriçados e meu coração
disparado. Ao me remexer, me torno imediatamente consciente do corpo
pequeno e cheio de curvas de minha esposa moldado ao meu. Abro os olhos
de repente. Meu pau está duro como pedra e latejante. Todos os meus
pelos estão eriçados e uma eletricidade incessante percorre meus nervos.
Há um vazio dentro de mim que só ela pode preencher; uma angústia que
só ela pode aplacar. Eu preciso do meu anjo, mais do que qualquer coisa,
e tem que ser agora.
Eu nos desvencilho
devagar e me coloco por cima de seu corpo, com um joelho de cada lado de
suas coxas. Levanto sua camisa de algodão, expondo seus seios fartos e
deliciosos à minha boca faminta. Abocanho um mamilo com vontade, dando
uma longa sugada antes de mordiscá-lo e lambê-lo em seguida. Mas eu a
quero acordada. Quero ver suas reações. Quero que ela esteja no mesmo
lugar onde estou.
“Acorda, meu anjo”, murmuro enquanto espalho beijos por todo o seu rosto. “Preciso de você”.
Ela
alonga o corpo, fazendo seus peitos se empinarem em minha direção, e
isso aumenta ainda mais a minha ânsia. Volto a atacá-los com minha boca
enquanto minha mão abaixa sua calça de moletom e sua calcinha. Quando
ambos estão fora do caminho, enfio dois dedos em seu sexo intumescido,
massageando seus tecidos de levinho.
“Gideon...”. Seu tom de voz me deixa claro que ela sabe que o que preciso vai muito além do sexo.
Eu
a calo com um beijo profundo. Seus quadris se levantam diante do toque
lento dos meus dedos em sua carne sensível, me dando um acesso ainda
maior. Ansiosa, ela remexe suas pernas para terminar de tirar a calça e a
calcinha. Em seguida, suas mãos desabotoam meu jeans e abaixaram a
calça e a cueca, liberando meu membro dolorido e necessitado.
“Me coloca dentro de você”, sussurro com meus lábios colados aos dela.
Seus
dedos agarram meu pau, posicionando-o em sua entrada e seus quadris se
levantam ainda mais, fazendo com que eu a penetre parcialmente. Ao
sentir minha ponta sensível ser aquecida por sua carne, enterro o rosto
em seu pescoço e me enfio ainda mais em seu calor. O alívio e o prazer
se misturam em um único sentimento, viciante, intenso e confortável. Eu
estou dentro dela. Estou acolhido em seu interior e sendo hipnotizado
por seus lábios. Estou em casa novamente.
“Nossa Eva, como eu preciso de você”.
Em
resposta, seus braços e suas pernas me envolvem com força, aproximando
ainda mais nossos corpos. Meu membro se aprofunda ainda mais, fazendo
minhas bolas entrarem em atrito com seus grandes lábios.
Estabelecemos
um ritmo em que nossas pélvis se chocam com violência. Uma. Duas.
Várias vezes. Nossos lábios se movem freneticamente um sobre o outro.
Nossas respirações se confundem, nossos gemidos ressoam pelo cômodo
silencioso. Suas unhas arranham minhas costas enquanto uma das minhas
segura firmemente sua nuca e a outra, seus quadris.
O clímax chega para nós dois ao mesmo tempo, de forma repentina e devastadora, sugando todas as nossas energias.
Mas isso é só o começo. Há uma vastidão de desejo de ambas as partes, esperando para ser saciada.
E nós a saciamos, até nossos corpos perderem as forças.
Até o amanhecer.
Desculpem a demora e por não ter postado na data que prometi (01 de julho), mas infelizmente, naquele momento eu oscilava entre estar bem e mal, mas acabei sendo vencida pelo desânimo e pela tristeza, lidando com muitos problemas pessoais, e minha escrita não tinha ficado tão boa. E, como a maioria de vocês sabem, eu odeio fazer coisas malfeitas e entregar capítulos mal escritos. Com o meu estado de espírito, era só o que eu poderia entregar.
Além disso, eu sumi completamente e sinto muito por isso também. Eu queria muito ter entrado em contato com vocês, mas fiquei envergonhada de fazer isso sem ter um capítulo pronto. Então, aqui está. Espero que tenha atendido às expectativas de vocês!
Bom, é isso. Espero que vocês me entendam e me desculpem. E, mais uma vez, obrigada pelo apoio e mensagens de carinho que recebi. Eu, definitivamente, tenho as melhores leitoras do mundo!
Beijo grande e até amanhã!
Nenhum comentário:
Postar um comentário